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sábado, 25 de setembro de 2010

DOGMAS E 3ª REVELAÇÃO

EXCELENTE PÁGINA EXTRAÍDA DO SITE “GUIA HEU”

http://www.guia.heu.nom.br/Dogmas_e_3aRevelacao.htm

Diálogo entre o Espírito Imperator, por intermédio de um outro Espírito que lhe servia de secretário, Rector, através da psicografia, e o próprio médium William Stainton Moses, a respeito dos Dogmas e a "Terceira Revelação".

(Diálogo entre duas inteligências)

Imperator - Ontem à noite muitas coisas foram ditas à pressa, e por isso não se acham resumidas exatamente na ata transcrita naquela ocasião. Era de máxima importância que, sobre assunto tão capital, nos exprimíssemos com cuidado e que pudésseis compreender precisamente o que desejamos expor. Queremos pois estabelecer, de maneira mais nítida, o que apresentamos imperfeitamente na sessão. As condições de confronto não nos permitem sempre ser tão precisos, servindo-nos_da_palavra, como o somos comunicando pela_escrita, e isso apesar da cuidadosa atenção que prestamos. O insulamento completo assegura as condições convenientes para ser preciso e exato.
        Tratamos da divina missão que nos é conferida. No número das contínuas dificuldades que nos assaltam, uma das mais sérias é que aqueles cuja cooperação desejamos, porque são adaptáveis ao nosso assunto, são ordinariamente embaraçados por noções teológicas preconcebidas ou se assustam com o que parece contradizer o que aprenderam. Então somos incapazes de os influenciar e afligimo-nos vivamente por se atribuir o que deriva de Deus a adversários, a um demônio todo-poderoso e malfazejo.
        Entre todos os nossos contraditores, estes nos entristecem mais. O pseudo-sábio que só quer ver com o auxílio do seu próprio médium, mediante as suas condições particulares, que só quer tratar conosco para demonstrar que somos farsistas, mentirosos ou transmitimos as ficções de um cérebro desequilibrado; com este pouco nos importamos; seus olhos cegos não podem ver, sua inteligência obscurecida, embaraçada, contraída por longa vida sacrificada aos preconceitos, não pode absolutamente servir-nos. Ele pode, quando muito, penetrar com dificuldade os mistérios comuns das esferas; a base de conhecimento que poderia adquirir, ainda que útil e mesmo de valor, só insignificantíssimos serviços prestaria à nossa obra especial. Não procuramos além disso excitar a atenção de alguns homens de ciência, que se dignam ocupar-se com o aspecto fenomênico da nossa obra. O espírito, desde muito tempo habituado à observação dos fenômenos_físicos, está mais bem preparado para elucidar esses fatos, que são do seu domínio. O nosso estudo é diferente e relaciona-se com a influência do espírito sobre o espírito com o conhecimento do que podemos revelar sobre o seu destino. A categoria dos espíritos ignorantes e incultos, ainda que possa mais tarde atingir o nível em que nos encontraremos, não pode servir atualmente. Ela nada sabe do que temos a dizer e só o saberá depois de um período infinito de preparação preliminar. Igualmente temos pouco a dizer aos orgulhosos, àqueles que, em sua altiva confiança em si próprios, se presumem sábios, e aos escravos da rotina e da respeitabilidade; só uma evidência inteiramente física pode atingi-los.
        A história que estamos encarregados de publicar seria para eles uma fábula. É para as almas livres, que têm conhecimento de Deus, do céu, do amor e da caridade que nos voltamos com vivo empenho; elas desejam instruir-se e conhecer o porto ao qual aspiram. Mas, ah! achamos muitas vezes os religiosos instintos naturais, implantados por Deus e nutridos pelo espírito, ocultos ou desfigurados pela restrita influência de uma teologia humana, que aumentou imperceptivelmente, durante os longos séculos de ignorância e loucura. Esses espíritos estão armados de todas as armas contra a verdade, que eles amam entretanto.
Falamos de uma revelação do Pai Celeste, mas eles têm já uma revelação que julgam ser completa. Assinalamos a sua inconsistência demonstrando-lhes que em parte alguma ela pretende a finalidade ou infalibilidade que lhe assinalam. Respondem-nos por palavras sem nexo, tiradas dos formulários de uma Igreja ou baseadas em uma opinião adquirida e adaptada de acordo com qualquer pessoa, que pretendem considerar infalivelmente inspirada. Aplicam-nos um testemunho, tirado de alguma narração sagrada, que foi dada em uma época especial, para um fim determinado, e que se persuadem ser de aplicação universal e contínua.
        Se nos referimos às provas, aos pretensos milagres que atestam a realidade da nossa missão, como atestavam a missão daqueles que influenciamos no passado, respondem-nos que o tempo desses milagres não mais existe, que os inspirados do Espírito_Santo tinham sido autorizados a produzi-los, somente nos séculos longínquos do passado, e dizem-nos que o diabo, por eles próprios inventado, tem o poder de contraverter a obra de Deus e de nos levar às trevas, afirmando estar a nossa missão em antagonismo declarado contra Deus e o Bem. Quereriam, na verdade, ajudar-nos, pois o que dizemos é provável, mas somos emissários do demônio. Devemos vir dele, porque está escrito na Bíblia que falsos e artificiosos Espíritos virão.

  • Isso deve ser assim, pois um Santo Mestre não profetizou que haveria quem renegasse o Filho de Deus?
  • Isso deve ser assim, pois não colocamos a razão humana acima da fé?
  • Não mudamos o lugar onde Deus tinha colocado o Cristo e a sua missão?
  • Não pregamos um Evangelho sedutor, no qual as boas ações aproveitam a quem as põe em prática?
  • Tudo isso não é empreendido pelo Arquiinimigo transformado em anjo de luz, para enganar as almas e arrastá-las à ruína?

        Esses argumentos, sinceramente expressos por aqueles cuja confiança quereríamos captar, causam-nos dolorosa angústia. Essas almas, que resistem por uma piedade mal compreendida, são amantes, ardentes, só lhes faltando a liberdade de espírito em vista do progresso real – tendência que os transformaria em luzes, brilhantes no meio da escuridão terrestre. Quereríamos confiar-lhes a nossa comunicação, pois o conhecimento que têm de Deus e do Dever é já um terreno sólido, mas, antes de estabelecer as nossas bases, devemos fazer desaparecer os escombros com que eles impedem de construir solidamente.
        A Religião, para ser digna de seu nome, deve ter dois objetivos: Deus e o homem.

  • Que pode objetar a isso a fé aceita, chamada ortodoxa pelos que a professam?
  • Em que diferimos e como a nossa comunicação se concilia com a razão?

        Pois, antes de tudo, apelamos para a razão, que está implantada no homem. Recorremos a ela, pois foi em nome da razão que os sábios fixaram a lista dos escritos que continham, segundo eles, a revelação exclusiva e final de Deus. Eles apelaram para a razão a fim de sancionar a sua decisão; também nós apelamos para ela. Os nossos amigos acreditam que a direção divina prescreveu-lhes o que seria para todas as idades o conjunto da verdade revelada.
Somos também os mensageiros do Altíssimo, não menos enviados do que os Espíritos que guiaram os videntes hebreus e que ajudaram aqueles cujo fiat estabeleceu a palavra divina.

  • A nossa comunicação é a mesma deles, somente mais adiantada;
  • o nosso Deus é o seu Deus, somente mais claramente revelado, menos humano, mais divino.

        Que o apelo seja ou não de divina inspiração, a humana razão, guiada, sem dúvida, por agentes espirituais, mas sendo sempre a razão, alcançará compreender afinal. E os que rejeitam esse apelo estão, por suas próprias bocas, convencidos de loucura. A fé cega não pode substituir a esperança raciocinada; pois a é a quando repousa sobre bases sólidas e escolhidas, que a razão confirma; do contrário, não pode impor-se a ninguém. Se não se apoiar absolutamente sobre coisa alguma, não temos necessidade de demonstrar a sua nulidade e falsidade.
        Voltemos, pois, à razão. Como pode ser racionalmente provado que vimos do diabo? Em que o nosso credo é perigoso? Sob que respeito podem acusar-nos de tendência infernal? São esses os pontos sobre os quais vos instruiremos.

Imperator

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(William Stainton Moses - Depois de um longo discurso, em transe, sobre os assuntos tratados na última comunicação, a escrita continuou no dia seguinte, pelo mesmo Espírito Imperator, servindo-se do amanuensis ordinário, conhecido sob o nome de Rector. Depois que foi escrito o seguinte, discutiu-se muito tempo, acrescentaram-se algumas reflexões e refutaram-se esses ataques contra o ensino dado.
No ponto de vista em que me coloquei então, estes ensinamentos podiam muito bem ser qualificados de ateístas ou diabólicos pelos fiéis. Na minha opinião os consideramos latitudinários, e sustentei opiniões mais relacionadas com o ensino ortodoxo.
Para seguir o meu argumento, o leitor deve lembrar-se que eu tinha sido educado em estrita conformidade com os princípios da Igreja_Protestante, havendo-me aplicado ao estudo das teologias grega e romana e ligando-me às opiniões da facção anglicana, da Igreja da Inglaterra, como melhor adaptáveis às minhas. Algumas das minhas idéias se tinham modificado, mas, em substância, eu estava solidamente ligado à Alta Igreja.
A época de que falo remonta a esse estado, de grande exaltação espiritual, a que aludirei algumas vezes, exaltação causada pela presença de uma Inteligência dominante, da qual eu tinha perfeita consciência; a ação que ela exerceu sobre mim produziu um trabalho de pensamento equivalente a uma regeneração espiritual.)

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        Censurais a incompatibilidade das nossas instruções com o credo reconhecido como ortodoxo. Temos ainda algo a dizer sobre esse assunto.
A Religião, a vida sã do espírito, tem dois aspectos,...

  • um dirigido para Deus,
  • o outro para o homem.

        Que diz de Deus o credo espiritualista?

  • Em vez de um tirano ciumento e irritado, revela um Pai amoroso, na verdade justo, bom e cheio de afeição, mesmo pela mais baixa das suas criaturas.
  • Não reconhece nenhuma necessidade de propiciação para esse Deus;
  • rejeita como falsa toda noção que apresente esse Ser Divino sob o aspecto de um senhor vingativo, punindo violentamente o transgressor ou exigindo o sacrifício de uns para resgatar o pecado dos outros.
  • Ainda menos ensina ele que esse Ser Onipotente reine em um céu onde o seu prazer consista em receber o culto dos eleitos e em olhar as torturas dos condenados, privados para sempre de luz e esperança.

        Tal antropomorfismo não pode achar lugar em nosso credo. Deus, tal como Ele se nos faz conhecer pela uniformidade de suas leis, é puro, amoroso, santificado e perfeito, incapaz de crueldade, tirania e outros vícios humanos. Deus, centro de amor e de luz, age em estrita conformidade com as suas imutáveis leis morais, que regulam necessariamente a existência. Deus é o grande objeto da nossa adoração, nunca do nosso terror.
        O que sabemos dEle, o olhar humano não pode perceber, não podeis mesmo figurar em vossa imaginação, e entretanto nenhum de nós o viu.

  • Não nos seria dado apreciar os sofismas metafísicos pelos quais uma indiscreta curiosidade e uma especulação extra-sutil obscureceram a primitiva concepção de Deus, aceita pelos homens; ela era superior à que se seguiu.
  • Não espreitamos; esperamos apenas que nos seja permitido um saber mais elevado. Deveis também esperar.
  • Falamos, em geral, das relações entre Deus e suas criaturas, entretanto podemos desfazer muitas pequenas invenções humanas que de século a século foram acumuladas ao redor e sobre as verdades centrais, como, por exemplo, a escolha de um pequeno número de favorecidos.
  • Não há outros eleitos a não ser os que trabalham por si próprios a fim de se elevarem de acordo com as leis que os governam.
  • Não conhecemos nada da onipotência da fé cega ou da credulidade.
  • Reconhecemos o valor de um espírito acessível, leal, separado das angústias suspeitosas; este se aproxima de Deus e atrai a si a direção angélica.
  • Mas rejeitamos altivamente a doutrina destruidora que afirma que a fé, a crença e o consentimento amoldados às opiniões dogmáticas têm o poder de apagar as transgressões; que uma vida terrestre viciosa, manchada, pode ser abolida e o espírito elevar-se, purificado pela cega aceitação de uma idéia, de uma imaginação, de uma crença irracional. Uma tal doutrina avilta maior número de almas, que qualquer outra superstição que indicássemos.
  • Não ensinamos, além disso, que uma crença seja sumamente eficaz com exclusão das outras; nenhuma forma de culto encerra o monopólio da verdade, todas lhe possuem o gérmen; todas estão sujeitas ao erro. (Ver: Religiões)
  • Conhecemos, como não conheceis, as circunstâncias que determinaram a forma religiosa adotada por um encarnado, apreciamo-la por conseqüência.
  • Conhecemos inteligências muito superiores, altamente colocadas na hierarquia espiritual, que têm progredido apesar do culto que professavam na Terra.
  • Apenas damos valor à investigação zelosa da verdade, que anima os propagadores das doutrinas mais diferentes. A pura especulação nenhum valor tem para nós.
  • Repudiamos com desgosto as pesquisas frívolas pelas quais as vossas teologias pretenderam resolver os mistérios da ciência transcendente; não nos inquietamos com as pueris discussões que os homens provocam e não nos ocupamos com o sectarismo, salvo com o que sabemos ser o mais perigoso agente provocador, semeando o rancor, o ódio, a maldade e a má-vontade.

        Tratamos da religião no que vos afeta e a nós outros em um sentido mais simples. O_homem, espírito imortal, segundo cremos, colocado na vida terrestre como em uma escola, tem simples deveres a preencher; preenchendo-os, prepara-se para trabalhos mais elevados.

  • Ele é governado por leis imutáveis, cuja transgressão lhe proporciona males e detrimentos e cuja obediência, ao contrário, lhe assegura o adiantamento e a satisfação.
  • Ele obedece à direção de Espíritos que seguiram antes a mesma estrada e que têm a missão de guiá-lo se ele próprio os ajudar.
  • Há nele uma necessidade de justiça que o atrairá mais diretamente para a verdade se ele permitir que o dirijamos e o protejamos.
  • Se recusa o socorro oferecido cairá de transgressão em deterioração.
  • Por seus pecados castiga-se a si próprio e só experimentará a miséria sem consolação.
  • Essa existência mortal é apenas um fragmento de vida, mas os seus atos comportam resultados sobreviventes à morte do corpo carnal; é preciso, pois, quando os atos foram maus, expiá-los na dor.
  • As conseqüências das boas ações são igualmente permanentes, atraem, ao redor da alma pura, influências que a acolhem e ajudam nas esferas.
  • A vida, vo-la ensinamos, é una e indivisível. única em seu desenvolvimento progressivo e única no efeito, por toda parte semelhante, das leis eternas, imutáveis, que a dirigem.

        Não há favorecidos; ninguém é punido sem piedade, por erros inevitáveis; a justiça eterna é relativa ao amor eterno; a misericórdia não é um atributo divino, porquanto é inútil, uma vez que implica a remissão de uma pena infligida, e nenhuma remissão pode ser feita, salvo se os resultados já foram expiados.

  • A Piedade é divina;
  • a Misericórdia é humana.        

        Não reconhecemos a piedade sensacional que se absorve na contemplação e despreza o dever. Sabemos que isso não é glorificar a Deus. Pregamos a religião...

        Explicamos o vosso dever – corpo e alma reunidos – para com Deus, para com o vosso irmão e para convosco mesmo. Deixamos aos ineptos, que tateiam na escuridão, as pueris disputas de palavras sobre ficções teológicas. Ocupamo-nos da vida prática e o nosso credo pode ser assim resumido:

Honrai e amai o vosso Pai. Deus. (Adoração)

Dever para com Deus

Ajudai o vosso irmão na estrada do progresso. (Amor fraternal)

Dever para com o próximo

Cuidai do vosso corpo e conservai-o. (Cultura corporal)
Aumentai o vosso saber tanto quanto possível. (Progresso mental)
Procurai descobrir cada vez mais a verdade progressiva. (Crescimento espiritual)

Dever para consigo mesmo

(Ver: Evolução humana)

Procedei sempre corretamente e conforme o vosso conhecimento. (Integridade)
Cultivai a comunhão com o mundo espiritual pela prece e freqüentes relações. (Educação espiritual)

Dever para consigo mesmo
(Ver: Iluminação do íntimo)

        Essas regras, no conjunto, indicam o que vos é importante.

  • Não obedeçais a nenhum dogma_de_seita;
  • não vos submetais cegamente a instruções que não se apóiem na razão;
  • não aceiteis, sem reserva, comunicações de aplicação particular, feitas em uma época especial.

        Aprendereis mais tarde que:

  • a revelação nunca cessa e que é progressiva, sem horas nem limites; não pertence a nenhum povo, nem a pessoa alguma. Deus se revela gradualmente à Humanidade.
  • Aprendereis também que toda revelação, sendo produzida por um instrumento humano, está relativamente sujeita ao erro.
  • Nenhuma revelação é inspirada diretamente. Diversos dizeres dos médiuns, em épocas diferentes, não parecem estar de acordo, entretanto não se infere disso uma derrogação da verdade. Essas narrações podem ser verdadeiras, cada qual em seu gênero, ainda que de aplicação diferente. Baseai o vosso julgamento somente na justa razão. Refleti sobre o que se diz e recebei ou rejeitai. Se se vos faz uma oferta prematura e sois incapaz de aceitá-la, então, em nome de Deus, ponde-a de lado; ocupai-vos somente com o que vos satisfizer à alma e puder ajudá-la, em sua marcha para diante.

        Tempo virá em que aquilo que vos mostramos da verdade divina será reconhecido e apreciado entre os homens. Contentemo-nos com esperar, e as nossas preces ao Deus Supremo, sempre sábio, se reunirão às vossas a fim de que Ele guie os pesquisadores da verdade para onde possam obter conhecimentos elevados e penetrem com a vista o interior da mais completa e abundante verdade. A sua bênção recaia sobre vós.

Imperator

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(William Stainton Moses - Essas declarações não concordavam de modo algum com as minhas opiniões de então; objetei que eram incompatíveis com o ensinamento reconhecido das Igrejas_ortodoxas e que de fato aniquilavam alguns dogmas essenciais da fé cristã; sugeri que a comunicação podia ter sido adulterada na passagem e que nela faltavam muitas coisas que eu considerava principais; acrescentei que se se pretendesse que um tal código fosse completo e pudesse ser tomado como regra de vida, eu estaria pronto a argumentar contra ele. Recebi a seguinte réplica:)

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        O que vos foi dito é correto, como esboço, mas não se pretende que isso seja uma imagem perfeita da verdade. É um pálido contorno, obscurecido e ofuscado em muitos lugares, mas verdadeiro em substância. Sem dúvida, as nossas palavras violam o que se vos ensinou a crer como necessário à salvação. Sem dúvida, o espírito não preparado julga-as novas e destruidoras. Não é assim. Em suas grandes linhas, o credo espiritualista poderia ser aceito por todos aqueles que têm pensado um pouco nos assuntos teológicos, com o espírito livre, encarando, sem receio, as conseqüências da pesquisa da verdade. Ele se recomenda àqueles cujo pensamento não está detido pelos antigos preconceitos. Dissemos que era preciso operar uma grande limpeza, que o trabalho de destruição devia preceder ao de construção, enfim, que devemos sanear antes de construir.

Imperator

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(William Stainton Moses - Sim; mas as imperfeições que quereis afastar são precisamente as que os cristãos têm considerado em todos os séculos como as doutrinas fundamentais da fé.)

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        Não, amigo, absolutamente não; exagerais. Se relerdes as imperfeitíssimas narrações da vida de Jesus, nelas não descobrireis que Ele tenha jamais reclamado para si nada que o aproxime da atitude que a Igreja cristã lhe impôs à viva força. Ele estava muito mais de acordo com o que declaramos do que com o modelo apresentado pela Igreja cognominada com seu nome.

Imperator

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(William Stainton Moses - Não posso admitir isso. E a expiação (a reconciliação de Deus com o homem pela morte do Deus-Cristo), que dizeis disso?

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        Há verdade em um certo sentido, não o negamos; combatemos somente essa grosseria humana que torna Deus desprezível, sob a forma de um cruel tirano, que só pode ser acalmado pela morte de seu Filho. Não somos detratores da obra de Jesus quando condenamos as fábulas desonrosas que, agrupadas ao redor de seu nome, desfiguraram a grandeza simples de sua vida, o fim moral de seu sacrifício. Teremos, mais tarde, outras coisas a dizer-vos sobre a formação gradual de um dogma, que chega a ser estabelecido de fide, visto como rejeitá-lo ou negá-lo significa cair em pecado mortal. Se o homem fosse entregue às suas próprias conclusões, ter-se-ia por irremissível heresia, digna do fogo eterno, a negação desse fato: que o Deus Supremo delegou a um homem uma das suas inalienáveis prerrogativas. Um importante cisma da Igreja cristã reivindica para seu chefe uma ciência infalível e persegue na vida, até à vergonha, e condena na morte até aos suplícios eternos, aqueles que não querem aceitar essa afirmação. Isto é, entretanto, um dogma recente que nasceu no meio de vós, assim como nasceram todos os dogmas. Por conseqüência, tornou-se quase impossível à razão humana, quando não auxiliada, distinguir a verdade de Deus sob as glosas com que o homem a cobriu. Assim, todos os que tiveram a audácia de pôr a mão sobre esse acervo foram considerados malditos. Isso é a história de todos os tempos e não é justo acusar-nos de maleficência se, de acordo com o nosso ponto de vista superior, vos pomos de sobreaviso contra as ficções humanas, que tentamos destruir.

Imperator

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(William Stainton Moses -  Sim, isso pode ser, mas a crença na Divindade de Jesus e em seu sacrifício não pode ser chamada dogma criado pelo homem. Precedeis sempre o vosso nome de uma cruz († Imperator); presumo, pois, que durante a vossa vida terrestre vos tivésseis filiado a esses dogmas. † Rector, um outro Espírito que se comunica, usa também uma cruz como sinal, e é possível ter quase morrido por eles, se é que de fato morreu. Parece-me que aí há contradição. Suponhamos que os dogmas são errôneos e inúteis, suponhamo-los mesmo falsos. Que posso daí concluir? Mudastes as vossas opiniões? éreis ou não cristão quando vivíeis na Terra? Se não éreis, por que a cruz? Se éreis, qual a razão dessa mudança de sentimentos? A questão está intimamente ligada à vossa identidade. Não vejo como o vosso ensinamento coincida com a crença que professáveis na Terra. É belo, puro, mas não cristão; racionalmente, não é isso o que se espera ver enunciar sob a égide da cruz. Tal é a minha opinião. Se falo por ignorância, esclarecei a minha ignorância. Se pareço curioso, desculpai-me, pois não tenho para vos julgar outros meios senão as vossas palavras e os vossos atos. Até onde o meu estado de julgar permite, as vossas palavras e os vossos atos são nobres, puros e racionais, mas não cristãos. Desejo somente uma base racional para formar uma opinião, que possa satisfazer às minhas dúvidas atuais.)

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        O vosso pedido será deferido oportunamente; parai por agora.

Imperator

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(William Stainton Moses - A escrita, apesar do desejo e dos esforços que empreguei para obtê-la, não voltou senão a 20 de junho. A comunicação acima é de 16 de junho.)

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        Saúdo-vos, bom amigo! Vamos dar-vos maior número de informações sobre os pontos que vos inquietam. Quereis saber até que ponto o sinal da cruz pode ser legitimamente harmonizado com o nosso ensino, e isso vo-lo mostraremos.
        Amigo, o sinal que é o emblema da vida e da obra de Jesus-Cristo não pode lealmente legitimar a maior parte das doutrinas que passam hoje por suas. A predisposição de todas as classes de religionistas foi sempre ocupar-se da letra e desprezar o espírito; descansar mais sobre expressões provenientes de quaisquer escritores e desprezar as tendências dominantes dos ensinos. Os homens procuraram a verdade com idéias preconcebidas e acharam o que desejavam, não o que de fato existia. Expressões e palavras insuladas foram arrancadas dos versículos e ajeitadas pelos que se aplicavam a comentar os textos, de modo a emprestar-lhes uma significação da qual os escritores primitivos nunca tinham cogitado. Outros foram buscar, nos anais, palavras que podiam servir para sustentar uma teoria, sem se preocuparem de procurar a verdade, e descobriram o que podia servir às suas intenções. Assim lentamente, laboriosamente o edifício se elevou, construído por homens que se deleitam com as controvérsias de palavras ou estão possuídos por uma idéia cuja prova acham por toda parte confirmada, não querendo ver senão a ela.
        Dissemos já que um grande trecho do que queremos explicar se relaciona com o que qualificais de Divina Inspiração.
       Os que reconheceis como defensores ortodoxos da fé cristã dizem-vos que uma misteriosa pessoa, uma_das_três_individualidades que compõem a indivisível Trindade, tomou posse do espírito de certos homens e por suas vozes deu ao mundo um corpo de doutrina completa, de força permanente, da qual nada pode ser retirado e à qual é crime acrescentar qualquer coisa, pois que ele é a palavra mediata de Deus, contendo em si a verdade eterna. Os sentimentos de Davi e Paulo, de Moisés e João estão, não somente em harmonia com a vontade suprema, mas são o pensamento íntimo da Divindade. As palavras têm, não somente aprovação de Deus, mas foram pronunciadas por Ele. Enfim, a Bíblia, quer no fundo ou na forma, é a própria palavra de Deus, e cada palavra ali, sendo divina, deve ser estudada e interpretada como tal, mesmo nessa versão traduzida em vossa linguagem, por homens que, para aumentar a maravilha, supõem-se, por sua vez, depositários da Verdade Divina e guiados por ela no trabalho da tradução.
        é assim que doutrinas espantosas e conclusões levadas ao extremo podem apoiar-se sobre simples palavras, pois cada palavra, cada fraseado da revelação de Deus não está divinamente ao abrigo de todo erro humano? Os defensores da ortodoxia conseguiram, pois, estabelecer uma grande quantidade de dogmas conforme a escolha que fizeram nos textos que lhes agradavam, não se importando com os outros. Para eles a Bíblia é a expressão direta do Supremo.
        Os pensadores que não conseguiram aceitar essa maneira de ver chegaram, estudando a Bíblia, a prejudicá-la. Isso conduz às reflexões que vamos apresentar-vos;...

  • eles meditaram sobre os anais que compõem a Bíblia e os consideram a história das formas sob as quais a verdade de Deus foi, de séculos em séculos, revelada ao homem;
  • estudam essas narrações, que indicam a marcha progressiva do homem desde que ele começou a procurar o conhecimento de Deus e o destino do espírito;
  • seguem o desenvolvimento gradual dessa revelação desde os tempos de brutal e bárbara ignorância em que Deus, amigo de Abraão, comia e conversava no umbral da sua tenda, e era também o juiz que governava o seu povo, o rei que marchava à frente dos exércitos ou o tirano revelado por intermédio de algum vidente;
  • depois, chegam ao período em que Deus aparece sob um aspecto mais verdadeiro de ternura, amor e compaixão paternais.

        Essas investigações os conduzem a verificar a continuidade do progresso e, se prosseguem nelas, adquirirão a certeza de que essa progressão tem sempre sido contínua, de que a revelação progressiva não cessou nunca e de que, se o conhecimento que o homem pode ter do seu Deus está longe de ser completo, a sua capacidade para compreendê-lo aumenta à medida que a sua aspiração se desenvolve. Chegado a esse ponto, o pesquisador da verdade estará preparado para receber o nosso ensinamento.

  • é a ele, aos seus semelhantes a quem nos dirigimos.
  • Nada dizemos àqueles que, loucamente, se persuadem possuir o perfeito conhecimento. Antes que nos possamos ocupar deles é preciso reconhecerem a sua completa ignorância; tudo quanto pudéssemos dizer resvalaria sobre a impenetrável barreira, atrás da qual estão eles entrincheirados pelo dogmatismo e a presunçosa ignorância; é preciso que estudem além, na dor, o que lhes retardou o progresso espiritual, terrível obstáculo contra eles.

        Se compreendestes exatamente o que acabamos de expor, podemos conceber e acrescentar algumas palavras sobre a natureza da revelação e o caráter da inspiração.
        Diremos então que os livros sagrados, componentes da Bíblia, como_muitos_outros, que nela não estão incluídos, são os anais dessa marcha gradual para o conhecimento de si que o grande e bom Deus deu ao homem. O princípio dominador dessas narrações é idêntico ao que governava as nossas relações convosco. O homem só recebe a verdade que pode compreender, nada mais, sob nenhum pretexto, mas tanto quanto possa receber para satisfazer as suas súplicas. Essa verdade é revelada por intermédio do homem, mas vem sempre mais ou menos impregnada dos pensamentos, das opiniões do médium. Os Espíritos que se comunicam são forçados a empregar os materiais fornecidos pela inteligência do médium, a quem eles preparam, para que sirvam aos seus desígnios, apagando erros, inspirando novas exposições sobre a verdade. A pureza da comunicação do Espírito depende da passividade do médium e das condições nas quais a comunicação é dada. Acham-se em todas as partes da Bíblia os traços da individualidade do médium, erros causados por um controle imperfeito, e a impressão das suas opiniões, assim como as particularidades referentes às necessidades especiais do povo ao qual a comunicação foi primeiramente dirigida.
        Numerosos exemplos desse fato podem ser verificados.

  • Quando Isaías repetiu ao povo a comunicação de que estava encarregado, o seu discurso foi caracterizado pela sua própria individualidade e adaptado às necessidades particulares do povo que o ouvia. Falou, é verdade, do Deus Supremo, porém, num estilo poético, com imagens patéticas, mas diversas das metáforas características de Ezequiel.
  • Daniel tem visões de glória;
  • Jeremias, os seus estribilhos vazados nas palavras do Senhor;
  • Oséias, o seu simbolismo místico.

        Cada um, conforme o seu modo individual, fala do mesmo Jeová, tal como o conhece. Semelhantemente, mais tarde a natureza característica das comunicações individuais é conservada. Conquanto Paulo e Pedro falem da mesma verdade, quase a consideram sob aspecto diferente. No entanto, a verdade não é menos real porque dois homens de espírito diverso a vejam por prisma oposto e falem dela conforme a compreendem. A individualidade do médium é palpável no estilo, senão no assunto da comunicação.
A inspiração é divina, mas o médium é humano. Resulta daí que o homem pode achar na Bíblia o reflexo_do_seu_próprio_espírito, qualquer que seja o gênero desse espírito. O conhecimento de Deus é tão fraco, o que o homem pode dEle compreender é tão pouca coisa, que toda pessoa que se apóia sobre as revelações passadas, sem querer nem poder desenvolvê-las, deve achar na Bíblia o reflexo do seu espírito. Ela procura o seu ideal e acha-o nos dizeres daqueles que falaram para pessoas colocadas no mesmo nível mental. Se nenhum vidente a satisfaz, procura nos versetos o que lhe agrada, rejeita o resto, e de peças e fragmentos elabora a sua própria revelação.
E assim se formam as seitas, construindo o seu ideal, que provam por citações tiradas da Bíblia. Ninguém pode aceitar o conjunto, porque o conjunto não é homogêneo. Quando aqueles que assim arranjam uma revelação se acham à frente dos partidários de outras revelações produzidas pelo mesmo gênero de trabalho, as batalhas de palavras se travam, as explicações (conforme as apelidais), os comentários de textos se acumulam. Tudo se obscurece; as palavras deformadas são interpretadas em um sentido que nunca foi nem o do Espírito que se comunica nem o do profeta ou do Mestre, e assim a inspiração se torna o veículo das opiniões de seitas, a Bíblia em um arsenal no qual cada combatente encontra a sua arma favorita, e a teologia, que é apenas uma noção de natureza privada, apóia-se sobre interpretações dilatáveis.
        Somos acusados de discordar da opinião dessa teologia; nada temos de comum com ela, que, por ser da Terra, é baixa e desonrosa em sua concepção de Deus, degradante por sua influência sobre o espírito, insultante à Divindade que faz profissão de revelar. Em verdade a contradizemos e a reprovamos. É nossa missão destruir o seu ensino e substituí-lo por idéias mais nobres e mais verdadeiras sobre Deus e o espírito.
        Uma outra razão, pela qual muitas falsidades com relação a Deus têm curso entre vós, como derivando da Bíblia, é que a idéia de inspiração infalível conduz os homens não somente a ligar muita importância a palavras ou a frases, mas a cair no erro de interpretar literalmente o que tinha apenas uma significação espiritual típica. Comunicando ao vosso plano mental idéias que lhe parecem inconcebíveis, somos obrigados a empregar expressões tomadas à vossa ordem de pensamento. Cometemos freqüentemente faltas, aplicando mal os termos, que são às vezes deficientes para exprimir o que queremos dizer. Quase todas as expressões mediúnicas são figuradas, especialmente quando os Espíritos tentaram exprimir idéias sobre Deus, tão grande!, e que eles próprios conhecem tão pouco! A linguagem empregada é necessariamente imperfeita, às vezes mal escolhida, mas é sempre simbólica, e deve ser assim compreendida. É loucura sustentar a exatidão literal de qualquer ensinamento espírita.
        Demais, as revelações sobre Deus foram feitas em uma linguagem apropriada às capacidades daqueles a quem foram originariamente dadas. É de acordo com isso que se deve interpretá-las. Mas aqueles que quiseram estabelecer a crença de uma revelação infalível, aplicável através de todos os séculos, interpretam cada palavra em seu sentido literal e deduzem delas conclusões errôneas. A hipérbole, inteligível na boca do vidente impulsivo que se dirigia a um auditório oriental ardente, habituado às imagens poéticas, torna-se exagerada, falsa, enganadora, quando explicada friamente em termos precisos a homens cujos hábitos de linguagem e de pensamentos divergem ou são totalmente diferentes.
        é a essa causa que devemos atribuir a propagação de certas idéias falsas, que, se fossem verdadeiras, desonrariam o Eterno. A linguagem original era bastante defeituosa, mas foi mais ou menos colorida pelo médium, por meio do qual se fez compreender, e ainda hoje é mais desproporcionada do que outrora, tornando-se positivamente falsa por não ser de modo algum a revelação de Deus, quando se quer interpretá-la ao pé da letra.
        Torna-se uma criação do homem que formou, de fato, uma divindade, como a que o selvagem talha à faca para fazer dela o seu fetiche.
        Com tais idéias, digamos ainda uma vez, não temos nenhuma relação. Rejeitamo-las, e a nossa missão é substituí-las por um conhecimento mais nobre e mais verdadeiro. Demais, tratando convosco, os Espíritos procedem sempre de modo uniforme; são enviados para fazer conhecer, com o concurso dos médiuns, algumas parcelas da verdade divina, porém acham no cérebro desses médiuns opiniões estabelecidas, falsas umas, outras em parte verdadeiras, além da confusa legião dos preconceitos da primeira idade e da educação. Esse Espírito deve ficar completamente emancipado das idéias preconcebidas? De modo algum. Não é assim que operamos, pois, apagando tudo, aventurar-nos-íamos a deixar o cérebro vazio e teríamos destruído sem poder criar. Não; tomamos as opiniões já existentes, mas esforçamo-nos por influenciá-las e aproximá-las da verdade, porquanto quase todas elas possuem um bom gérmen da verdade, o qual nos esforçamos por desenvolver, para que eles progridam e aumentem em conhecimentos. Contentamo-nos com deixar morrer as noções teológicas a que o homem liga tanta importância, por serem de pouquíssimo valor, e deverem dissipar-se à aproximação da brilhante luz para a qual conduzimos a alma, instruindo-a sobre os assuntos importantes. Não nos ocupamos com opiniões que não são prejudiciais. À vista disso, bem vedes que as idéias teológicas ficam tais quais eram, apenas adocicadas, menos austeras em sua aspereza. Assim os homens se certificam sem razão de que os Espíritos ensinam sempre o que o homem já sabia; nada de menos verdadeiro, e o que vos ensinamos é uma prova disso. Os guias espirituais trabalham, certamente, sobre o que acham no espírito, mas modelam, atenuam e conduzem a inteligência por graus imperceptíveis aos fins que têm em vista. A mudança obtida só se torna visível quando as opiniões, que pareciam firmadas, se modificam de modo bastante rápido. Por exemplo, um homem que negou a existência de Deus e da alma, que acreditava apenas no que podia apalpar e ver, adota a crença em Deus e em uma existência futura; no entanto, admirai-vos disso. Mas o espírito preparado, punido, morigerado, que se depurou e cujas convicções imperfeitas e grosseiras já se harmonizaram, é conduzido gradual e sutilmente, de modo a não o perceberem os vossos sentidos. Tais são, entretanto, os gloriosos resultados do nosso trabalho diário. O que era imperfeito, insensível, austero, anima-se, excita-se para o amor da verdadeira vida; o puro torna-se ainda mais puro; o nobre, ainda mais nobre; o bom, muito melhor; a alma ansiosa, agora acalmada, fica satisfeita por perceber com maior clareza mais ricas idéias do seu Deus e da felicidade futura. As opiniões não foram suprimidas, mas transformadas. É isso a real influência espiritual que existe ao redor de vós e da qual nada sabeis ainda; é o atributo bendito e vivo do nosso ministério.
        Assim, quando os homens dizem que os Espíritos repetem as opiniões preconcebidas do médium, têm em parte razão. Mostramos como procedemos para modificar as que são inofensivas. Quando prejudiciais, são destruídas. Em presença de formas especiais de crença teológica, procuramos, quanto possível, espiritualizá-las, antes que destruí-las. Sabemos – como não o podeis saber – quão insignificantes são as formas, mas o essencial é que a fé seja ativa e espiritual. Aplicamo-nos pois a essa obra de construção da qual vos falamos, empregando os bons materiais, eliminando os que são falsos e ilusórios, saneando a alma, que pode então aceitar as modificações que oferecemos e compreender o que podemos ensinar-lhes sobre a verdade.
        E agora, amigo, experimentareis a influência eficaz desse sistema, que vos ajudará em vossas dificuldades. Procuramos não extirpar do vosso espírito as opiniões teológicas que sustentais, mas modificá-las.
        Se quereis recordar-vos do passado, verificareis como o vosso credo se afastou de uma base tão estreita, para chegar gradualmente a idéias racionais. Fizestes, sob a nossa direção, conhecimento com os princípios teológicos das inúmeras seitas e igrejas. Fostes conduzido a reconhecer, em cada uma, o gérmen de verdade, mais ou menos desenvolvido, porém obscurecido pelo erro humano. Estudastes os escritos dos mestres sobre religiões no mundo cristão, e a vossa própria crença está despida das suas asperezas, ao contato das doutrinas divergentes que proclamam a verdade. O progresso foi lento desde os dias em que estáveis influenciado pelo estudo dos antigos filósofos, até à hora presente em que os sistemas de teologia passaram, deixando em vosso espírito somente o que podeis assimilar...

  • A fé inabalável e imutável do ramo oriental da Igreja cristã com os seus dogmas cristalizados que já não são mais verdades vivas e respiráveis;
  • a crítica destruidora dos pensadores alemães que tem ferido, por golpe bem necessário, a cega confiança na exatidão verbal das sentenças humanas;
  • as especulações do pensamento ousado em vosso país, ou em vossa Igreja;
  • as idéias daqueles que são tão estranhos no que diz respeito ao próprio credo da cristandade, tudo isso examinastes, retendo apenas o que vos podia servir.

        Depois desse longo e gradual trabalho, desejamos conduzir-vos mais para diante e mostrar-vos a ideal verdade, impalpável mas muito real, oculta sob o que vos é familiar. Queremos despojar o corpo terrestre e mostrar-vos a verdade vital em sua significação espiritual. Queremos que saibais que o ideal espiritual de Jesus-Cristo não se parece mais com a versão humana, com os seus acessórios de expiação e redenção, como o bezerro imperfeitamente talhado pelos antigos hebreus não se parecia com o Deus que consentia em ser-lhes revelado. Desejamos mostrar-vos, tanto quanto elas estão ao vosso nível, as verdades espirituais que servem de base à vida daquele que conheceis como Salvador, Redentor e Filho de Deus. Dir-vos-emos a verdadeira significação da vida do Cristo e vos demonstraremos, o melhor possível, quão baixo e indigno é o modo de encarar a sua prédica, e quão útil é restaurá-la.
Perguntais como o sinal da cruz pode ser ligado ao nosso ensino. Amigo, a verdade espiritualista, que tem esse sinal por emblema, é a verdade legitimamente cardinal que devemos anunciar de acordo com a nossa missão. O amor devotado, que quer servir à Humanidade até ao sacrifício da vida, do lar e da felicidade terrestre, o puro espírito do Cristo, é, declaramos ainda, o espírito divino. É ele que salva verdadeiramente a baixa moral da ambição vulgar das satisfações pessoais e da voluptuosa indolência. é ele que pode resgatar a Humanidade e fazer dos homens os filhos de Deus. Essa abnegação e esse amor encarnado podem, na verdade, expiar o pecado e tornar o homem semelhante a Deus. Tal é a verdadeira expiação, admissível em vez da reconciliação de uma Humanidade manchada de crimes, com um Deus irritado, reconciliação obtida à custa do sacrifício do seu filho imaculado.
Expiação é essa mais elevada e mais completa pela purificação da natureza, pela liberdade do espírito e pela fusão do humano e divino Uno. O espírito do homem pode atingir esse objetivo, mesmo durante a sua encarnação.
        A missão do Cristo foi demonstrar essa verdade, e nisso...

  • era Ele uma manifestação de Deus,
  • o Filho de Deus,
  • o Salvador do homem,
  • o Reconciliador,
  • o Expiador, cuja obra perpetuamos, trabalhando sob o seu símbolo, combatendo os inimigos da sua fé e a todos os que de boa-vontade ou por ignorância o desonram, colocando-se sob a proteção do seu nome.

        O que dizemos pode parecer ainda novo e estranho àqueles mesmos que fizeram alguns progressos em saber espiritual, mas soará a hora em que os homens reconhecerão a conformidade dos nossos ensinos com o do Cristo, e então o grosseiro vestuário humano, sob o qual foi abafado, será rasgado e a verdadeira grandeza dAquele que erradamente adoram em sua ignorância lhes aparecerá sob a sua verdadeira luz. Eles o adorarão, não menos realmente, porém com mais completo conhecimento, e saberão que o sinal sob o qual nos colocamos é o emblema do puro amor impessoal, do esquecimento absoluto de si mesmo, que deve ser o seu fim supremo. O nosso mais ardente desejo é atingir esse objetivo.
        Refleti sobre as nossas palavras; procurai ser guiado, se não por nós, seja por Aquele que nos envia, como enviou outrora esse Espírito sublime de pureza, caridade e sacrifício a que os homens chamaram Jesus e que era o Cristo.
        Veneramos o seu nome e o adoramos mesmo hoje.
        Repetimos as suas palavras; o seu ensinamento ressurge no nosso.
        Ele e nós somos de Deus e vimos em seu nome.

Imperator

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(William Stainton Moses - Eu não ficara satisfeito e refletira muito tempo sobre essa comunicação, aliás muito oposta às minhas convicções de então, mas, como tinha certeza de estar escrevendo sob uma influência poderosíssima, desejava ser dela desembaraçado antes de replicar. No dia seguinte, oferecendo-se ocasião oportuna, apresentei os meus argumentos e notei que o credo formulado não podia ser aceito como cristão por nenhum membro da Igreja cristã, pois que, além de estar em contradição com os termos evidentes da Bíblia, podia ele próprio ser rejeitado como uma expressão do Anticristo. Acrescentei que essas idéias vagamente belas – isso o reconhecia eu – tinham uma tendência a suprir o ponto de apoio da fé. Deram-me esta resposta:)

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        Amigo: com satisfação responderemos à controvérsia que apresentais. Quanto à nossa autoridade, já nos apresentamos, declarando ser divina a nossa missão e esperamos com confiança que aceiteis; é preciso que as almas sejam experimentadas para receberem o nosso ensinamento. Isto virá depois de longa e persistente preparação, não nos surpreendendo o não poder ainda ser aceita facilmente a verdade que promulgamos. Só podemos ser ouvidos por pequeno número de homens mais adiantados em conhecimentos. Foi jamais aceita, à primeira vista, alguma revelação complementar das precedentes?
        A pretensiosa ignorância tem-se insurgido sempre contra o progresso, na persuasão de que os seus conhecimentos velhos e antiquados são suficientes; a mesma horda assaltou a Jesus. Os homens que tinham lentamente elaborado a teologia mosaica, reduzindo em massa ritualista informe as instruções do Sinai, gritaram que o blasfemador Jesus destruía a lei e ultrajava a Deus. Os escribas e fariseus, guardas da fé ortodoxa, unânimes em sua incredulidade e irritação contra Ele, lançaram o clamor que conduziu finalmente à cruz o grande Mestre. Sabeis hoje que Ele não insultou a Deus, mas apenas destruiu as interpretações humanas para poder purificar os mandamentos da lei divina, erguê-la da morte, dando-lhe um novo vigor espiritual.
        Em vez da interpretação glacial da Lei, prescrevendo a obrigação externa devida a um pai sem misericórdia nem amor, Ele ensinou a filial afeição, oferecendo com abundante ternura um tributo de amor, não comprado, aos pais terrestres e ao Pai Todo-Poderoso. Substituiu o formalismo de uma convenção puramente exterior pela livre oferta do coração. Qual era o mais verdadeiro e o mais sublime credo?
        O último esmagou o primeiro? Entretanto, aqueles que se davam por satisfeitos em cumprir o dever filial por meio de algumas simples moedas, desdenhosamente atiradas, foram os que crucificaram o Cristo, sob o pretexto de que Ele tinha ensinado uma religião nova, blasfematória e subversiva, que tendia a destruir a antiga. A cena do calvário foi o coroamento lógico da fé defendida pelos fariseus.
        A mesma censura de blasfêmia elevou-se perpetuamente contra os discípulos, quando eles vieram pregar o seu Evangelho a uma sociedade não preparada, que não se importava de recebê-lo. As mais monstruosas acusações foram facilmente levantadas pelos inimigos da nova fé, “por toda parte difamada”. Os discípulos e os primeiros fiéis estavam sem lei, posto que respeitassem rigorosamente o culto e os poderes “que tinham”; devoravam os filhos: os servidores e imitadores do meigo Jesus! Aceitavam-se como verdadeiras as mais odiosas calúnias, como hoje os homens desejam crer em tudo o que pode desacreditar a nossa missão e a nós próprios.
é a história de todos os tempos; as novidades que tocam à religião, à ciência, ao que ocupa o espírito limitado do homem são atacadas com furor. É um atributo essencial da inteligência humana, dominada pelo hábito mental ou material, o que lhe é novo ou estranho alarma a sua indolência e lhe inspira uma suposição desconfiada.
        é, pois, sem surpresa que vemos primeiramente a incredulidade fazer oposição ao Cristianismo espiritualizado que ensinamos.
        Não é de estranhar que a nossa comunicação contradiga algumas particularidades dos ensinos dados por intermédio de espíritos humanos, mais ou menos desenvolvidos em dias de há muito desaparecidos. Não temos necessidade de repetir que a Bíblia contém páginas que não concordam com o nosso ensinamento, sendo uma mistura de erro humano transmitido_pelo_espírito_dos_médiuns escolhidos; podeis somente conseguir isolar a verdade, julgando a tendência geral.
        Opiniões particulares, escolhidas sem referência ao corpo de doutrina, são apenas os sentimentos do indivíduo e demonstram a disposição do seu espírito, mas não são artigos de fé. Imaginar que uma convicção enunciada desde tantos séculos possa unificar-se, eternamente, é insensato.
        Sem dúvida, era crença corrente, na época em que os escritores compunham os livros do Novo_Testamento – a que chamais inspirados – que Jesus era Deus, e repudiava-se violentamente quem quer que o negasse. Sem dúvida creditava-se também que Ele voltaria sobre as nuvens antes que a geração então viva desaparecesse, para julgar o mundo. Os homens enganavam-se em ambos os casos; pelo menos em um deles, pois que já são passados mil e oitocentos anos sem que Jesus tenha voltado para dar sentenças. Poderíamos continuar o argumento se fosse necessário. (Ver: Arianismo)
         A impressão que desejamos produzir em vós é esta:

  • deveis julgar as revelações de Deus de acordo com a luz que vos é dada, geralmente, e não sob o ditado dos escribas;
  • é preciso referirdes-vos ao espírito, à tendência genérica, não à fraseologia literal.
  • Deveis julgar-nos, assim como o nosso ensino, não de conformidade com tal afirmação, feita por tais homens em tal época, mas pelo exame de adaptação do nosso credo às vossas necessidades, ao progresso do vosso espírito e às relações para com Deus.
  • Que se deve então auferir do nosso ensino?
  • Até onde concorda ele com a sã razão?
  • Qual o ensino que dá de Deus?
  • Como auxilia o vosso espírito?

       As igrejas ortodoxas vos ensinaram a crer em um Deus que, depois da sua cólera extinta pelo sacrifício de seu Filho, permitiu fosse um pequeno número de almas admitido depois_da_morte em um céu fabuloso onde, por toda a eternidade, teria por única ocupação cantar louvores com persistência monótona. O resto da raça, incapaz de obter a entrada nesse céu, seria lançada, em punição dos seus pecados, a um inferno, lugar de tormentos indescritíveis e sem-fim! As causas que privariam esses miseráveis da felicidade do paraíso seriam, quanto a uns, a falta de fé, ou a incapacidade intelectual para aceitar certos dogmas; quanto a outros, as quedas depois de violentas tentações, de vidas degradadas, não resgatadas no último momento por um grito de submissão às leis da Igreja, pois se vos ensinou igualmente que o bruto mais sensual e mais criminoso podia no leito mortuário achar-se de repente em estado de comparecer à presença imediata de Deus, contra quem blasfemara durante toda a vida.
        Não podemos sem calafrios falar de um tal Deus, no qual a nossa razão não pode pensar. Não nos limitamos a expor a inanidade da pretensão com que se quer fazer desse miserável ídolo muito mais que uma ficção concebida por bárbaros; só pedimos que admireis, conosco, a presunçosa ignorância com que se ousou produzir uma tal caricatura do Deus, Santo dos Santos. O Deus que pregamos é na verdade um Deus de amor, cujos atos não contradizem o seu nome e cujo amor e piedade sem limites são incessantes para com todos; que não tem parcialidade para com ninguém, sendo de uma imutável justiça para com todos. Entre ele e vós estão as classes_dos_Espíritos, seus agentes, reveladores da sua vontade; por esses mensageiros a comunicação nunca é suspensa. Tal é o nosso Deus manifestado por suas obras e operando por intermédio de seus anjos missionários.
        E vós mesmos, quem sois? Almas imortais, que por uma palavra, um grito exprimindo a fé em um ininteligível e monstruoso dogma, podeis comprar um céu de inatividade e evitar um inferno de tormento material? Em verdade, não! Sois Espíritos colocados durante certo tempo em um vestuário de carne, a fim de vos preparardes para uma vida espiritual mais elevada, na qual colhereis o fruto da seara semeada no passado. Não vos espera um fabuloso céu, de torpor eterno, mas sim uma atividade útil, progressiva, que vos ajudará evolutivamente, sempre para mais altas perfeições.
Imutáveis leis governam as ações que produzem os seus próprios efeitos.

  • Os atos inspirados pelo desejo de fazer o bem adiantam a alma,
  • ao passo que o contrário a perverte e atrasa.

        A felicidade acha-se no progresso e na assimilação gradual com o divino e perfeito. Os Espíritos procuram a felicidade no amor divino e na bênção mútua. Não aspiram à debilitante indolência e não cessam de desejar adiantar-se em conhecimentos. As paixões, as necessidades e os desejos_humanos são extintos com o corpo, e o Espírito vive em uma atividade espiritual pura, que o impele sempre ao progresso e ao amor. É isso que é o céu.
        Não conhecemos outro inferno senão o que está na alma aflita pelas suas transgressões, acabrunhada de remorsos e angústias, a qual se salvará, combatendo as suas más disposições e cultivando as qualidades que a reconduzirão à estrada do conhecimento de Deus.
        O castigo é apenas a conseqüência natural do pecado consciente, sem intervenção divina; remedeia-se isso pela expiação, pelo arrependimento_pessoal, suportados com firmeza, sem covardes apelos para obter misericórdia e sem se crer salvo pela condescendência dada a fórmulas que deveriam fazer tremer.
        Sabemos que a felicidade está reservada para quantos se esforçam por ter uma vida de acordo com a razão, com a mesma certeza com que a miséria aguarda os que violam cientemente as leis sábias, corporais ou espirituais.
Das sublimes regiões do Além não dizemos nada, porque nada sabemos. Limitamo-nos a repetir-vos que a vida para nós outros, como para vós, é governada por leis, que devem ser descobertas, e que a obediência ou o desprezo que se lhes dá conduzem certamente à paz ou à dor.
        é inútil insistir mais sobre o nosso credo, cujas linhas principais já conheceis, e sobre o qual, oportunamente, novas luzes vos serão dadas. Estabelecemos de novo a nossa questão:

  • o ensino que damos não é puro, nobre, divino?
  • Não é o complemento natural do que Jesus pregou?
  • é menos definido, mais vago do que a ortodoxia?
  • Não avulta em particularidades minuciosas e repulsivas;
  • ensina uma religião mais elevada e mais santa;
  • prega um Deus mais divino;
  • atira um véu sobre o desconhecido e recusa substituir a especulação ao conhecimento ou aplicar as mais grosseiras noções humanas à própria essência e aos atributos do Supremo.

        Se desanimar com a vã curiosidade e parar diante do incompreensível é ser vago, somos vagos na exposição do nosso saber; mas se o dever do sábio é estudar o que é inteligível, agir antes que especular, então a nossa crença é ditada pela sabedoria e pela razão, inspirada pelo próprio Deus. Ela suportará a prova da experiência racional, durará, inspirará miríades de almas nos séculos futuros, enquanto os que a injuriam e a insultam serão ocupados em reparar dolorosamente as conseqüências da sua insensata cegueira. Ela conduzirá inúmeras multidões de Espíritos puros, que progrediram na fé, à felicidade, ao adiantamento; permanecerá e há de abençoar os seus discípulos, apesar da demência ignara que atribuem os seus divinos preceitos a um demônio e lançam anátema em quem a segue.

Imperator

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(William Stainton Moses - Isso me parece belo, racional, e penso mesmo que respondestes à acusação de ser vago; mas cuido que muitas pessoas dirão que subverteis praticamente o Cristianismo popular. Eu quereria que me désseis algumas idéias sobre o fim geral do espiritualismo, no que respeita especialmente aos não desenvolvidos, encarnados ou desencarnados.)

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        Falar-vos-emos disso oportunamente. Refleti sobre o que foi dito, antes de reclamar outras comunicações. Possa o Supremo dar-nos a capacidade de vos guiar com acerto.

Imperator

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(William Stainton Moses - Nessa época, a influência que me envolvia dominava-me a ponto de excluir todas as outras comunicações. Em 24 de junho fiz em vão grande esforço de vontade para me comunicar com o Espírito que escrevia habitualmente; a influência era de caráter singularmente elevado. Eu fazia com pontualidade o meu trabalho cotidiano, mas todos os instantes em que podia dele distrair-me eram consagrados a refletir sobre ensinos tão novos para mim; à medida que eu pensava nesses ensinos, eles se me apresentavam à reflexão com uma força e beleza de coordenação quais antes me não haviam impressionado. Durante muito tempo tinha eu estudado a fundo as teologias, sem procurar descobrir erros nos diversos sistemas, antes confrontando-os que criticando. Achava-me agora em frente de novos esboços, que me pareciam tocar a raiz do que tinha sido até então artigo de fé. A 26 de junho, reportei-me às declarações de Imperator e dispus assim o caso:

Pensei muito sobre o que me fizestes escrever e li algumas páginas a um amigo, cujo julgamento me inspira grande confiança. Surpreende-me que as doutrinas cristãs, consideradas até aqui como dogmas essenciais da fé, sejam negadas ao abrigo do símbolo da cruz. Não posso exprimir o meu embaraço com mais energia do que dizendo que, apesar da minha aprovação intelectual às vossas declarações, a fé no Cristianismo existente durante mais de 18 séculos não pode ser derribada levianamente pelos argumentos mais racionais que possam aparecer, quando não se apóiem sobre alguma autoridade reconhecida. Quereis dizer-me claramente que posição destinais a Jesus? Que prova podeis oferecer do direito que talvez vos tenha sido conferido de subverter ou de desenvolver a prédica do Cristo e de substituir por um novo Evangelho o antigo? Que evidência podeis dar-me de vossa própria identidade e da missão que proclamais? Homens sinceros e racionais têm necessidade de provas convincentes. A palavra, sem sanção, de um homem ou mesmo de um anjo, não logra fazer admitir a origem divina de um ensino que me parece subversivo. Se bem que a mudança seja muito gradual, parece-me existir uma diferença perceptível nas vossas comunicações, onde descubro divergências de ensinamentos entre alguns Espíritos que se têm comunicado por vosso intermediário; o laço tendente a unir um certo número de opiniões, com diversas origens, deve ser bem delicado.)

(Ver: Comunicação dos Espíritos com o mundo material)

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        Amigo, estamos muito satisfeitos por ter chegado a estimular o vosso espírito e por haver tirado dele uma série de perguntas racionais. Nenhuma disposição de espírito – crede-nos ao menos nisso – é mais agradável ao Supremo do que quando se procura a verdade, com zelo e inteligência. Longe de combater-vos o desejo de verificar as idéias novas, sem pensamento preconcebido – aprovamo-lo.
        é isso o indício de um espírito livre e leal que não quer renunciar às suas primeiras crenças sem razões substanciais e que, entretanto, está pronto a reconhecer a verdade, se puder obter certezas interiores e exteriores.
        Essas dúvidas e inquietações têm muito mais valor do que a crédula disposição daquele que aceita tudo quanto lhe é apresentado, sob uma cor capciosa; preferimo-la sobretudo à indiferença dessas naturezas estacionárias a quem nenhuma tormenta demove, a cuja vítrea superfície nenhuma brisa agita e cuja plácida inércia é refratária a qualquer conselho espiritual.
        Louvando as vossas dúvidas, a elas responderemos nos limites do nosso poder. Há um ponto além do qual nos é impossível fornecer provas; deveis sabê-lo, comparando-nos às testemunhas chamadas aos vossos tribunais de justiça; estamos em uma situação desvantajosa por não poder produzir o gênero de evidência que prevalece entre vós. Como não somos da Terra, as nossas afirmativas, mesmo em vasta proporção, só podem ser corroboradas pelo testemunho dos nossos irmãos espirituais. Vários_deles_vos_falaram_da_nossa_identidade terrestre e vos deram a prova, que deveria ser concludente, de que conhecemos intimamente, nas menores particularidades, a vida terrestre daqueles cujos nomes tomamos. Se isso não basta para vos convencer e se pensais que essas informações foram obtidas por Espíritos enganadores, sempre prontos a mistificar, lembrar-vos-emos as palavras de Jesus:

  • “Conhecereis a árvore pelos seus frutos.”
  • “Os homens não colhem uvas dos espinheiros, nem figos dos abrolhos.”

        Referimo-nos sem temer ao conteúdo do nosso ensinamento, cuja divindade se prova.
        Não temos que insistir por mais tempo sobre esse ponto; as vossas inquietações não nos surpreendem, mas desde que a nossa resposta não pode convencer-vos, nada mais temos a acrescentar, cumprindo-nos aguardar com paciência o momento em que vereis a luz.
        Com vagar falaremos, em outras circunstâncias, dos Espíritos que, tendo vivido em diferentes épocas da história desse mundo, sob climas diversos, têm idéias divergentes sobre Deus e a vida futura.
        Presentemente vos indicamos uma falsa concepção, que é inseparável do estado em que viveis. Não podeis ver, como nós, a quase nulidade do que chamais opinião; não podeis saber, devido à cegueira dos vossos olhos, como_se_rompe_o_véu_depois_de_a_alma_separar-se_do_corpo_carnal; de que modo as especulações a que se liga tanta importância são consideradas interpretações vagas enquanto se percebe o gérmen de verdade oculto sob as doutrinas teológicas, gérmen muito semelhante em essência, não obstante os seus diferentes graus de desenvolvimento. 
        Ah! amigo, a religião não é um problema tão abstrato como o homem o considera; porquanto a verdade não é o patrimônio exclusivo de nenhum homem nem de seita alguma.

  • Pode estar ou está na filosofia de Atenodoro, quando, na antiga Roma, ele aspirava pela depuração do espírito e sujeição da carne; e pode estar na procura da união com o seu Mestre, que dava a Hipólito a força de perder a existência mortal, por sua confiança em uma vida real, entrevista confusamente.
  • A mesma pesquisa de verdade enobreceu Plotino e o arrebatou mesmo, durante a sua passagem pela Terra, bem além da esfera terrestre.
  • A mesma semente residia no seio de Algazzuli, apesar dos seus erros; sustentou as especulações de Alessandro Archillini e deu força e realidade às palavras calorosas que caíram de seus lábios.
  • A mesma jóia pura reverbera agora entre as criaturas de boa-vontade; é o patrimônio comum que lhes permite reunirem-se a fim de trabalhar em comum para um mesmo fim, que é a apuração desse depósito de verdade, que o homem recebeu de seu Deus, e o enobrecimento do destino humano pela expansão de idéias mais exatas e mais espirituais sobre Deus e o futuro da alma.

        As suas antigas opiniões estão muito desvanecidas e não deixaram atrás nenhum traço dos prejuízos materiais que envolviam a alma e lhe detinham o progresso, mas do diamante por elas ocultado refletem-se cintilações sempre crescentes e imperecíveis. O amor da verdade é o laço misterioso de simpatia, que tem a força de unir, para uma obra comum, Espíritos que, na Terra, professavam aparentemente convicções opostas. Isso pode fazer-vos compreender por que trabalhamos com instrumentos diferentes, escolhendo-os segundo a sua especialidade e faculdade de adaptação, da qual somos os melhores juízes.
        Esperamos que depois da reflexão reconheçais o bom senso do que vos dizemos. Quanto às provas irrecusáveis, é preciso contentar-vos com a esperança, até que, rompido o véu, possais por vossa vez e conosco perceber o que é invisível aos vossos olhares ainda limitadíssimos. A nossa grande esperança é que chegareis gradualmente a ser convencido. Aplicai-nos a divina lei do Mestre, de julgar os outros como a vós mesmos.
       Errais supondo que os nossos ensinos oferecem contradições. Inteligências de ordens diversas têm comunicado convosco, expondo argumentos e pontos de vista variados. Não negamos que de preferência temos procurado desenvolver em vós os germens da verdade que descobrimos, em vez de entrar em luta com as vossas opiniões errôneas; havemos evitado as discussões inúteis e procurado os pontos de contato. Voltaremos mais tarde sobre certas matérias, que de propósito deixamos de lado. Quando pedistes informações, indicando que não estáveis obstinado em conservar tais ou tais idéias, esclarecemos-vos sem escrúpulo. Podemos ver quando a corrente do pensamento vos arrasta para longe de antigos portos onde não vos sentis mais em segurança, e então vos guiamos para não cairdes na torrente, arriscando-vos ao naufrágio. Desatamos delicadamente os laços para desprender o vosso espírito do passado morto, e estamos encarregados de o conduzir a um ancoradouro mais seguro. Queremos, se nisso cooperardes, torná-lo capaz de se elevar acima das tempestades e de estar pronto, com uma fé nova e vivaz, a atravessar as vagas encapeladas que o separam do porto da paz.
        Nesse tentame, não vos temos em nada desviado ou iludido, pois tudo quanto temos afirmado é de escrupulosa exatidão.
Não há verdadeiramente divergência nos ensinos de outros que falaram; as contradições aparentes são devidas à dificuldade de comunicação, à influência variável da vossa própria mentalidade, do vosso estado físico, à novidade do trabalho para alguns e sobretudo às vossas idéias acanhadas.

  • Só vagamente podemos simbolizar verdades que os vossos olhos espiritualizados contemplarão um dia em seu vasto esplendor;
  • não podemos falar com clareza quando o espírito do vosso médium está perturbado ou o seu corpo e o seu estado mental agitados pela moléstia.
  • Uma atmosfera tempestuosa, uma perturbação elétrica, a proximidade de seres humanos antipáticos ou hostis, impressionam a comunicação e podem alterá-la um pouco.

Daí, as variantes que haveis descoberto, aliás raras, mas que bem pouca coisa são, e que tendem a desaparecer quando os obstáculos forem afastados. Então reconhecereis o discernimento superior que vos guiou em uma fase difícil e perigosa.
        Muito vos lastimais da pouca probabilidade em ser aceita a nossa doutrina, entretanto não sabeis quase nada a esse respeito. Está muito mais próximo do que pensais o tempo em que a antiga fé, que durou tanto e que o homem remendou tão grosseiramente, cederá lugar a uma fé_mais_nobre, mais elevada, não antagônica, porém suplementar, e o puro Evangelho que Jesus pregou achar-se-á em nível de conhecimento mais adiantado. Pois sabei, bom amigo, que nenhum esforço é tentado sem que tenha sido considerada a correlação entre o Evangelho de Deus e as necessidades do homem. O que vos trazemos aplica-se também a outros e se espalhará sem interrupção, por processos bem graduados, entre as criaturas aptas a compreender a fé.
        O Mestre assim o quis. Essa hora não soou para vós e a nossa vidência é menos circunscrita que a vossa. Em tempo oportuno os princípios que acabamos de propagar serão conhecidos dos homens. Até então as almas progressistas serão instruídas, e uma semente preciosa está sendo semeada: a colheita e a conservação serão quando for preciso. Deveis esperar como nós.
        Repetimos que Deus não impõe suas bênçãos a ninguém:

  • oferece-as.
  • A responsabilidade da recusa ou do aceite pertence-vos.

        Se refletirdes sobre o nosso entretenimento, reconhecereis que a natureza do caso contém mais que uma prova presuntiva da validez das nossas pretensões. A evidência completa será admitida por vós e por aqueles a quem ansiamos em revelar os nossos pensamentos. Ninguém pode a isso recusar-se, a não ser os que estão mergulhados sem esperança de libertação, nas névoas da mais profunda superstição, ou aferrados a um dogmatismo intransigente. Nada temos, aliás, de comum com eles. Não falamos mesmo às almas que têm achado na sua fé o apoio suficiente; deixai-as vinculadas a ela; o momento de progredir ainda lhes não soou e só o tempo o fará.
A nossa revelação em nada difere da que a precedeu, antes marca um passo para diante, como cada desenvolvimento da ciência humana o faz. Os nossos conhecimentos provêm da mesma fonte e correm pelos mesmos canais, que são hoje, como então, terrestres e por conseguinte falíveis. Assim sucederá enquanto Deus se revelar por agentes humanos. Lembrai-vos do ponto de partida das nossas instruções, para o qual invocamos com insistência o vosso raciocínio; não vos solicitamos essa fé cega que não quer separar-se dos velhos ensinos, unicamente porque são velhos, assim como a aceitação do novo, por ser ele novo. Pedimos que penseis calmamente sobre o que tendes aprendido e, depois que fizerdes uma inteligente investigação, rejeitai ou aceitai, quando a vossa convicção estiver bem escudada.
Deus proíbe que incitemos, mesmo em aparência, qualquer homem a tornar-se antagonista real ou imaginário de uma crença que, durante mais de mil e oitocentos anos, foi honrada por miríades de almas zelosas e progressistas, tanto quanto por almas transviadas, mas sinceras e ardentes. A sua longa duração lhe dá direito à veneração, mas com a nossa ampla vista descobrimos a necessidade de modificar uma doutrina que, apropriada às gerações menos adiantadas, se tornou insuficiente. Em todo o caso, não queremos provocar revoluções violentas. Apuramos e infundimos uma vida nova. O Salvador lançou os alicerces de uma fé mais nobre do que a revelada sobre o Sinai ao ribombar do trovão; recomeçamos o divino edifício e oferecemos ao mundo uma crença mais adaptável às suas capacidades atuais, mais apropriada às suas recentes necessidades. (Ver: Divulgação da Doutrina Espírita)
        “O mundo a rejeitará! Bem, mas ao menos tê-la-emos apresentado, e aqueles que a tiverem acolhido sentirão a sua benéfica influência. Há quase sempre um longo intervalo entre o primeiro movimento de divulgação de uma verdade e a sua aceitação final; a semente parece perdida. O dia de preparação pode ser longo, a noite durante a qual o semeador espera pode ser acabrunhadora, mas a colheita é certa, e como não vos seria permitido retardá-la, podeis ajudar a arrecadação. Mas quer o homem ajude ou não, a obra de Deus se fará. É só ao indivíduo que a aceitação ou a renúncia da comunicação divina importa substancialmente. Quando uma alma se adianta ou se atrasa, os anjos regozijam ou afligem-se; eis tudo.
        Perguntais que posição assinalamos a Jesus, o Cristo. Ainda não é chegado o momento de entrar em especiosas comparações entre os educadores, que em épocas diferentes foram enviados por Deus; mas sabemos que nenhum Espírito mais puro, mais divino, mais nobre, mais bendito e mais abençoado desceu à Terra. Nenhum mais dignamente conquistou, por sua vida de amor e sacrifício voluntários, a veneração e o devotamento da Humanidade, nenhum espalhou sobre ela mais bênçãos nem realizou maior obra para o serviço de Deus. Damos a todos os grandes mestres os louvores que lhes são devidos e citamos como exemplo a sua abnegação, o seu amor até ao sacrifício, por uma geração tristemente inapta a seguir tais modelos.
        Se os homens tivessem empregado a sua energia para imitar o sublime devotamento, a firmeza, a pureza de pensamento e de vida que animaram o Cristo, teriam disputado menos sobre a sua natureza, e teriam sido menos pródigos de inúteis sofismas metafísicos. Os teólogos das idades obscuras não vos teriam legado a maldita herança das suas insensatas especulações. Os homens teriam seguido o simples Evangelho anunciado pelo Cristo, em vez de serem pervertidos por uma teologia antropomórfica que fez derramar lágrimas e sangue, e ultrajar o puro Espírito.
        Amigo, deveis discernir entre a verdade de Deus e as glosas do homem. Atribuir a um homem as honras divinas, em detrimento da própria homenagem e do próprio amor que a Deus pertencem exclusivamente, é um erro prejudicial que afasta o homem dos seus deveres para com o Eterno. “A letra mata – diz a vossa Escritura –, a letra mata, mas o espírito vivifica.” Assim, ...

  • rejeitamos a fábula de um inferno material e proclamamos idéias mais puras e mais racionais;
  • repudiamos essa noção ortodoxa da expiação e do sacrifício por delegação e proclamamos uma religião espiritualizada.
  • Arrancamos-vos ao formalismo, à inerte concepção literal do passado, para vos reconduzir a uma religião de verdade espiritualizada, ao amorável simbolismo da instrução angélica, que vos conduzirá no futuro para as alturas onde o Espírito está livre dos vínculos materiais.
  • Falamos-vos com cuidado, compenetrados da importância das nossas palavras, que deveis examinar com o único desejo de achar a verdade, implorando o auxílio divino, sempre concedido àqueles que o suplicam.

Imperator

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(William Stainton Moses - Tenho grande repugnância em publicar coisas tão íntimas, mas sou a isso forçado pela idéia de que a história das minhas lutas mentais e espirituais pode ser útil àqueles que atravessarem uma crise semelhante. Depois de um intervalo de alguns dias, durante os quais não recebi comunicação sobre os ensinos da religião espírita, pedi que me fosse permitido formular outras objeções. Devo referir que eu estava profundamente agitado e sentia-me incapaz de aceitar essas novidades, e o ponto que eu pretendia esclarecer era o da “identidade dos Espíritos”. Na disposição em que me achava então, era-me preciso a prova irrecusável da identidade do Espírito que se comunicava; sem ela eu não podia subscrever as declarações que me eram feitas. Convencido de que ela me podia ser dada, afligia-me por não obtê-la. Eu não sabia então (em julho de 1873), como o sei hoje, que a evidência de convicção é a única que se pode ter e que o meu plano deliberado não podia chegar ao que eu desejava. Achava-me, além disso, muito perplexo, porque muitas comunicações, que passavam perfeitamente por ser espíritas, eram estultas e frívolas, comparava-as, com grande desvantagem, com as lições dos moralistas cristãos e achava que havia profundas divergências entre elas e os ditados dados pelos Espíritos, que emitiam singular variedade de opiniões. Eu era pessoalmente hostil à maior parte dessas opiniões, que, a meu ver, não constituíam vantagem para as pessoas que as recebiam, e a idéia de que elas eram acolhidas por fanáticos repugnava-me. A mim não mais me seduzia a evidência interna ou externa. As minhas observações firmavam-se sobre a prova das verossímeis relações de Deus com a Humanidade, sobre o caráter geral e o resultado do espiritualismo. Deram-me a seguinte resposta:)

(Ver: Comunicações Espirituais)

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        Amigo, apraz-nos conversar novamente convosco; e se nos é impossível resolver todos os problemas que vos preocupam, podemos retificar os erros nos quais caístes quanto às relações de Deus com a Humanidade e às tendências da nossa missão.
        A página da história humana, que conheceis, relata também a marcha da revelação uniformemente progressiva de um único e mesmo Deus.

  • Na aurora da história do homem, a noção de um Deus, em sua natureza espiritual, toma a forma de um ídolo alternadamente invocado com veneração ou destruído com desprezo, conforme a prece era atendida ou ficava sem efeito.
  • Os homens ignoravam que o bloco que adoravam nenhum poder possuía e que ao redor deles se moviam sem cessar Espíritos missionários prontos a socorrê-los, a defendê-los e a trazer respostas às suas preces racionais.
  • Eles só podiam compreender Deus sob uma forma tangível, que encarnasse a sua idéia.
  • Notai bem: a idéia deles sobre Deus não vinha do próprio Deus.
  • Julgaram, pois, o seu Deus de acordo com eles, atribuíram-lhe as paixões que achavam dignas de respeito entre os seus semelhantes e o cumularam de algumas fraquezas, inseparáveis da Humanidade tal como a conheciam.
  • Finalmente, fizeram dEele um homem glorificado, dotado de onipotência, de onisciência, de onipresença, e o fizeram agir de acordo com a sua concepção.

        Por conseqüência, a revelação de Deus é proporcionada ao desenvolvimento intelectual e ao progresso do homem, porque o médium_humano torna-se apto para receber idéias menos obscuras sobre a Divindade à medida que, libertado dos óbices da primitiva ignorância, ele mesmo procurou a luz e o saber.
Repetimos já muitas vezes que o homem apenas recebe o que pode suportar. Deus é revelado por meio dos médiuns, e é impossível que o conhecimento de Deus exceda a capacidade do homem. Tivéssemos a liberdade de vos falar da nossa mais perfeita teologia e ela vos pareceria estranha e ininteligível ainda hoje. Por fracas doses vos instilaremos tanta verdade quanta podeis suportar. Quando a tiverdes assimilado, tereis consciência dos vossos erros.

  • Quando atribuís a Deus motivos e dizeis: “Isso não pode ser, Deus age em contrário à sua natureza; Ele não pode fazer isso agora, pois que o não fez outrora”
  • dizeis simplesmente: “A idéia que formo de Deus é tal ou qual, e não posso agora conceber uma outra.”
  • E nós vos dizemos: “Formastes o vosso Deus e o fizestes agir segundo os vossos raciocínios.”
  • À medida que o vosso espírito se dilatar, seja em vosso estado atual de existência, seja em um outro, percebereis novas luzes e direis: “Eu não tinha razão, reconheço-o agora, pois Deus não é absolutamente o que eu imaginava; como pude identificar-me com semelhantes noções!”

        Todos os Espíritos progressistas tendem para esses graus. O período de desenvolvimento não se acentua para todos nesta vida, ainda que vários recebam um influxo de noções, mesmo na fase presente de existência.
        Pois bem! obtivestes ou estais em vésperas de obter a vossa revelação. O vosso espírito dilatou-se, diriam uns, e imagina-se um Deus mais de acordo com suas faculdades adiantadas.
        Recebestes de uma fonte exterior, a mesma donde todo divino ensinamento dimana para o homem, uma revelação do Supremo, mais nova e mais rica, diriam outros.
        Dizei como quiserdes; as duas operações de revelação e de compreensão, de conhecimento e de capacidade devem ser correlatas; o homem só obtém uma revelação superior quando está bastante adiantado para sentir a necessidade dela, pela simples razão de que é ele o próprio agente pelo qual chega a revelação recebida.
        As vossas invenções teóricas sobre Deus têm-vos vindo por canais humanos; são a encarnação das aspirações humanas, a criação de seres não desenvolvidos, cujas necessidades não eram as vossas necessidades, cujo Deus, ou antes, cujas noções sobre Deus não eram as vossas.

Tentastes unir idéias que não podiam concordar umas com as outras, pois que eram o produto de inteligências dessemelhantes, desigualmente desenvolvidas.

  • Dizeis que não vimos de Deus, porque as nossas idéias não concordam com as vossas, que derivam de certas noções tiradas de alguns livros dos anais religiosos.
  • Dizei com qual Deus o nosso ideal está em oposição.
  • é com o Deus que, sob uma forma humana, passeava ao lado de Adão e exercia horrível vingança sobre ignorantes criaturas culpadas, diz-se, por ter cometido uma transgressão que vos parece agora singularmente venal?
  • Ou com o Deus que ordenava ao seu fiel amigo imolar o único filho do seu amor, única oferenda aceitável?
  • é com o Deus que reinava como rei terrestre sobre Israel e que a fábula mostra dedicado à promulgação de leis sanitárias ou à construção de um tabernáculo, que era levado à batalha com os exércitos de Israel e promulgava sanguinárias proclamações para exterminar povos inocentes e inofensivos?
  • Ou por acaso é o Deus que autorizava o seu servidor Josué a paralisar o sistema solar, para permitir aos israelitas fartarem-se de algumas horas mais de sangue e de saque?
  • é com o Deus que, exasperado porque seu povo escolhido reclama um monarca visível, condena esse mesmo povo por uma vingança sutil a castigos que devem durar muitas centenas de anos?
  • Ou finalmente com qual dos deuses dos profetas estamos em desacordo?
    • Com o Deus de Isaías ou com o de Ezequiel; com a lúgubre divindade saída do cérebro mórbido de Jeremias ou com a de Davi, semipaterna, semitirânica, fraca ou cruel, sempre irracional?
    • Com o Deus de Joel, de João? Com a concepção calvinista de Paulo e as suas horríveis fantasias de predestinação, de inferno, de eleição, de um paraíso triste e nulo?
    • Estamos em desacordo com Paulo, João ou Jesus?

Não há que insistir sobre o fato de ter sido a revelação sempre proporcionada à capacidade do homem e colorida pela sua imaginação. A idéia de Deus foi, através dos séculos, a concepção mais ou menos vibrante dos intermediários da revelação, e essa idéia, implantada, tomou forma segundo os contornos_mentais_do_médium. A ninguém a verdade completa foi confiada; mas somente tal parte de verdade, tal aspecto de verdade, necessárias para uma época e um povo particulares. Resulta, pois, que as concepções sobre Deus, às quais se fez alusão, são divergentes. Nós e o nosso Deus não somos nem Josué e seu Deus, nem Paulo e o seu; mas provocamos a comparação entre o Deus que conhecemos e revelamos e o Deus cujo pálido esboço era traçado diante de um povo que não o conhecia, por Aquele que melhor o conhecia, que vivia mais perto dEle, o_homem_Jesus-Cristo. Ele tinha um conhecimento de Deus, conhecimento que nenhum dos seus discípulos pôde atingir. A sua religião era simples, clara, ardente. A sua teologia era igualmente pura. O grito “Pai Nosso que estais nos céus” difere inteiramente das dissertações complicadas, pelas quais o Supremo é primeiramente informado do caráter que lhe é assinado, e implorado, em seguida, para agir de acordo com as paixões ou as necessidades imaginárias do seu ignorante adorador.
Deus! Não o conheceis! Quando os olhos do espírito se abrirem, admirar-vos-eis da vossa ignorância. Deus é muitíssimo diferente do que imaginastes. A vossa baixa imaginação não pode representá-lo. Ele lastima o cego mortal e perdoa-lhe; não censura a ignorância, mas sim a loucura com que se recusa deixar penetrar a claridade no templo vetusto donde ela desterrou um ídolo; lastima os amantes das trevas, que se aferram às fantasias abortadas do passado e, não podendo compreender a beleza, a simples majestade do Deus revelado pelo Cristo, querem enxertar sobre essa nobre concepção as antigas ficções antropomorfas. Estes não podem ainda ouvir ensinamentos mais elevados. Não sois desse número.
        Quando nos exprobrais asperamente por contradizer o Antigo_Testamento, só podemos responder que contradizemos, com efeito, a velha idéia repulsiva que transforma o Deus bom em tirano cioso, mas o nosso ensino está de acordo com a revelação dada por Jesus-Cristo; revelação da qual os seus melhores discípulos desgraçadamente se afastaram, sendo ela aviltada pelo homem.
        Se no que vos dizemos nada achais de satisfatório, é possível que os adversários tenham conseguido interpor entre nós e vós um fragmento da sombria nuvem que oculta Deus ao mundo. Pedimos que nos seja permitido dissipá-la e difundir uma vez mais em vossa alma os raios de claridade e de paz. Não temos de temer que isso seja um mal permanente e não lastimamos que experimenteis os alicerces sobre os quais o vosso conhecimento deve repousar. Isso não será tempo perdido.
        Não vos inquieteis sobre particularidades de insignificante importância, mas concentrai o vosso pensamento sobre a imperiosa necessidade de obter um conhecimento mais claro de Deus; sobre a triste ignorância que está espalhada pelo mundo a esse respeito e ao nosso; sobre o nobre credo que ensinamos, sobre o luzente futuro que revelamos. Deixai-vos de estar agitado pelo pensamento de um diabo_legendário. Não há nem diabo nem príncipe do mal para a alma reta, pura, verdadeira. Os adversários evitam-lhe a presença, pois ela é cercada de guias angélicos, ajudada por gloriosos Espíritos que velam por ela e a dirigirem. Um carreiro de progressão crescente se abre diante dessa alma, que, aliás, não está ao abrigo das tentações nem das ciladas na atmosfera que deve respirar durante o tempo da prova. A aflição e a angústia podem permanecer na alma, que poderá ficar entristecida sob o peso do pecado, acabrunhada à vista da miséria e do crime, mas, protegida por guias, ela só pode cair pela capitulação voluntária. A tristeza, a iniciação na dor e o contato do crime fazem parte da existência, em virtude da qual ela se eleva para o Além.
        Aqueles a quem falta a espiritualidade e a quem levou ao excesso o desenvolvimento material, atraem_Espíritos_congêneres_que_já_deixaram_o_corpo, sem esquecer seus desejos; atraem esses baixos seres, aproximados da Terra e sempre prontos a precipitarem-se sobre eles. Inimigos dos nossos trabalhos, eles procuram evitar-lhes os bons efeitos.
       São esses dos quais falais, quando dizeis levianamente que o resultado do espiritualismo não é satisfatório. Errais, amigo. Não nos censureis pelo fato de se manifestarem os Espíritos_inferiores por aqueles que lhes desejam as boas-vindas.

  • Censurai de preferência a estulta demência do homem que escolheu o vil e não o puro;
  • censurai as leis insensatas que lançam diariamente, em uma vida para a qual não estão preparados, milhares de Espíritos perturbados, arrastados por hábito ou por moda a uma vida de pecado;
  • censurai as tavernas, os hospícios de alienados, as prisões, os antros de devassidão e sobretudo o infernal egoísmo do homem.

        Eis o que desespera as legiões de Espíritos, não, segundo a fábula, em um mar de fogo material, mas sim nas chamas da volúpia perpétua, devorada pelo desejo sem esperança, até que a alma modificada domine as suas paixões mortais. Sim, é por semelhantes causas que tendes às vezes ao redor de vós inteligências atrasadas a aborrecerem-vos com mentiras e frivolidades. Mais tarde nos entenderemos ainda sobre isso; já dissemos mais do que pensávamos. E, quanto a mim, ouço o apelo que me convida à adoração do Supremo. Quando a minha prece subir até o trono da Divina Piedade, Oxalá possa um regato dessa graça consoladora cair gota a gota sobre a vossa alma ansiosa e derramar nela a paz de Deus, a tranqüilidade da confiança.

Imperator

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(William Stainton Moses - Relendo esta série de comunicações, eu admirava-me da sua beleza não só quanto à forma como quanto ao fundo, pois tinham sido escritas com a máxima rapidez, sem pensamento consciente da minha parte. Eram incólumes de defeito ou erro gramatical, sem acréscimos nem correções. Quanto à natureza do assunto, eu estava sempre ansioso. Apesar da minha simpatia para com certas opiniões expostas, eu acreditava que, em seu conjunto, elas transtornavam a fé da cristandade. Nenhum homem, dizia eu comigo, pode aceitar semelhante ensinamento, sem ser levado a rejeitar os dogmas aos quais o mundo cristão se submete de fide. Os dogmas fundamentais me pareciam ser especialmente atacados. Um conhecimento muito extenso dos trabalhos dos teólogos gregos e romanos, anglicanos, protestantes e sobretudo da escola moderna alemã, me tinha preparado para observar as divergências de opinião, concernentes aos menores pontos. Eu sabia que essas divergências eram inevitáveis e conhecia também o pouco valor da opinião individual, em presença dos mistérios abstratos da revelação. Estava mesmo pronto a ouvir surpreendentes afirmações sobre esses assuntos, mas aqui os pontos atacados me pareciam ser a essência da religião cristã. Espiritualizar ou explicar esses pontos era, a meu ver, absolutamente fatal à minha fé em qualquer revelação que fosse. Depois de longas e pacientes meditações, eu não podia chegar a concluir de outro modo. Recuei ao pensamento de aceitar afirmações tão categóricas sobre o ipse dixit de uma inteligência que não oferecia aceso às minhas investigações. Eu sentia que me era preciso mais tempo para refletir e que em todo o caso não estava preparado para adotar um credo iconoclasta, por mais belo que fosse, sem outras referências além das que se me apresentavam. Formulei essas objeções e a resposta foi esta:)

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        Falais com sabedoria. Refleti profundamente sobre o que é, na verdade, de vital importância. Estamos convencidos de que com o tempo assimilareis estes ensinos cuja importância haveis de apreciar. Dar-vos-emos, quando o desejardes, esclarecimentos sobre alguns pontos, mas não vos concederemos outras comunicações até que o tempo traga o que pedis. Desenvolvei inalterável paciência e orai com ardor.

Imperator

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(William Stainton Moses- Não repliquei, mas refletia e preparava-me para responder, quando fui imperiosamente impedido. A mão agitou-se com rapidez violenta e a comunicação seguinte foi escrita sem pausa, em um espaço incrivelmente curto. O esforço foi tal que me achei quase em estado de transe até terminar o ditado.)

(Ver: Escreventes)

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        Parai! parai! Não tenteis indagar, mas aprendei ainda. Estais impaciente e disposto a dizer coisas estultas. Que importa que o que vos dizemos contradiga aquilo em que outros acreditaram? Por que recuar sobre esse ponto? Dar-se-á que toda a fé firmemente abraçada não contradiga nenhuma outra fé? Dar-se-á que cada fé não contenha em si elementos de contradição? Se não sabeis mesmo isso, estais fora do estado de prosseguir para diante.
        Essas velhas crença, veneráveis pela sua antiguidade, confortaram homens, ainda que estes ficassem grosseiros ao desenvolver-se, mas eles as julgavam de acordo com as suas necessidades; sobrevinha para eles uma satisfação que hoje já não vos concedem. Por quê? Porque o vosso espírito ultrapassa essas antigas fórmulas, sem sentido para vós. Elas são impotentes para estimular-vos a alma e incapazes de vos aliviar. Por que então vos inquietais com isso? Por que demorar e tentar, em vão, encontrar significação daquilo que não podeis obter? Por que ser surdo à voz viva que do Alto vos chama a alma em tom vibrante? Por que recusar ouvir, quando tal voz vos fala da verdade, do espírito, de tudo quanto é nobre, real, oportuno? Por que, em virtude de quimérica veneração por um passado extinto, vos separar do que é vivo, da comunhão dos Espíritos, os quais vos podem anunciar grandes verdades sobre Deus e o vosso destino?
        Que vos importa que a nossa revelação esteja em completo antagonismo com a antiga? Seus calorosos acentos vos falam ao espírito, bem sabeis disso, ouvis-nos avidamente e achais a sua influência abençoada. Seria insensato entregar-vos aos Espíritos malfazejos, felizes por fazer humilhar a alma, impedindo-vos de vos separardes de um corpo decomposto.

  • Os anais religiosos narram como no sepulcro de Jesus seus amigos aflitos receberam do anjo uma comunicação pela qual aspiravam: “Por que procurais o vivo entre os mortos? Ele não está ali, ressuscitou.”
  • Assim, amigos, também vos dizemos: Por que vos retardais com insensata tristeza no sepulcro da verdade desaparecida? Ela não está lá, ressuscitou, deixou o corpo do ensinamento dogmático, e nós proclamamos uma verdade sublime, uma fé mais apurada, um credo mais nobre, um Deus mais divino.

        A voz que inspirou os instrutores das gerações passadas ressoou até vós; uma outra se eleva agora. Deus procede sempre assim com os homens; chama-os a uma verdade superior à antiga, e eles aceitam ou rejeitam a comunicação da Luz. Renunciar à fé familiar, respeitada, comove a alma que se volta entretanto para um outro lado; parece-lhe uma espécie de morte, e o homem teme a morte. Sim, mas é a morte na vida, a volta à saúde e à esperança. Assim como o Espírito, emancipado do invólucro carnal, paira em liberdade, a alma libertada dos antigos óbices também livremente adeja.
        “Só a libertação pela verdade, disse Jesus, pode tornar o homem livre.” Não o sabeis ainda, mas sabê-lo-eis mais tarde. Repetimos o nosso grito. Por que voltar a vossa face para o passado morto, quando o presente vivo e o futuro glorioso são ricos de promessas e bênçãos?

  • As antigas palavras não têm sentido;
  • deixai-as àqueles para os quais elas têm voz e guardam significação;
  • segui com passo firme os que vos mostram alturas grandiosas.
  • Deixai o passado destruído, viajai sem temor através de um novo presente, para atingir um futuro desconhecido.

        Porém, amigo, não é assim. O passado vos envolve com os seus encantos, e não partilhais a idéia comum de que o novo deve aniquilar o antigo.

  • Jesus o disse. Aconselhou Ele a abolição do ensinamento mosaico.
  • Já vos dissemos, o nosso ensino não é mais surpreendente, comparado ao seu, do que o seu comparado ao de Moisés. Esse que vos apresentamos é antes o complemento que a contradição do antigo – é o desenvolvimento de um saber mais extenso.

        Se meditardes profundamente sobre o estado do mundo na época em que Jesus veio nele proclamar a sua fé reformada, vereis que não é mais extraordinário ler o nosso Evangelho ao lado do que passa, entre os homens, por conter a religião, do que o era sobrepor o Evangelho de Jesus ao ritual do farisaísmo ou à céptica indiferença dos saduceus. O mundo tinha então, como hoje, necessidade de uma nova revelação, e aqueles que se mantinham na antiga não foram menos surpreendidos nem menos hostis, ouvindo-a proclamar, do que os vossos contemporâneos quando refratários ao que pensam ser novo.
        Naqueles dias, como nestes, não ficava das revelações adaptadas às necessidades especiais de um povo especial mais que uma soma de ritual inerte. A voz de Deus não era mais ouvida desde longos anos, e o homem começava a procurar, como agora, um ar mais respirável, aguardava uma palavra nova. Esta lhe veio divinamente expressa por Jesus; veio, na opinião dos homens, pelo veículo mais inesperado e menos capaz de impor o respeito aos sábios fariseus ou aos desdenhosos saduceus; entretanto, ela prevaleceu e há mil e oitocentos anos anima a vida religiosa do Cristianismo.
        Apesar das degradantes mutilações, a obra do Crucificado subsiste, bastando um sopro vivificante para reanimá-la; os velhos andrajos que o homem nela enrolou podem ser prontamente postos de lado, e a verdade aparecerá com muito mais brilho.
        A fonte da nossa revelação não é mais singular do que o foi a do poder exercido por Jesus, carpinteiro desprezado de Nazaré, aos olhos dos seus concidadãos.

  • Os homens o rodeavam com escárnio, como o fazem a tudo que é novo.
  • Estavam prontos a admirar as suas maravilhas; seguiam-no em multidão para assistir aos milagres físicos que Ele produzia, mas não eram bastante espiritualizados para compreender os seus ensinamentos.
  • Igualmente estão eles prontos a bradar contra nós e contra os nossos trabalhos.
  • Como outrora, reclamam sem cessar outras e outras provas. “Desce da cruz e acreditaremos em ti.”
  • Do mesmo modo hoje sucede, havendo mais provas entretanto do que é preciso para assegurar uma convicção firme.
  • Chamaram-lhe impostor, vaiaram-no, expulsaram-no da sua sociedade; esforçaram-se por meio das leis e de diversas influências para eliminar a nova doutrina. Ela era de moldes novos, mas a verdade que continha era velha, e antiga como o Deus que a dava.
  • A nossa parece nova, porém os homens a reconhecerão mais tarde como a mesma antiga verdade renovada e eterna.
  • Ambas são o desenvolvimento progressivo da mesma corrente contínua de verdade, apropriada às necessidades e aos apelos daqueles aos quais foi concedida.
  • Meditai sobre a disposição mental de Nicodemos, comparai-a com a de muitos dentre vós.

        Pergunta-se agora como então... “Se alguma pessoa instruída, bem colocada, respeitável”, “algum dos fariseus ou dos magistrados” admite a nova prédica.
        Ficai certo de que o poder que conseguiu reanimar a fé morta dos judeus e revelar Deus, mais claramente, é ainda capaz de instilar a vida no corpo quase inanimado da fé cristã.
        Possa o Sapientíssimo Guia proteger-vos e guiar-vos.

Imperator

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(William Stainton Moses - A comunicação precedente produziu em mim um efeito considerável; guardei silêncio durante alguns dias e depois rompi nestes termos:

  O paralelo entre a época do Cristo e a presente é compreensível. É fácil imaginar um saduceu instruído, desdenhando as pretensões do Cristo; aquele não tinha razão, sabemo-lo hoje, mas era muito desculpável. Examinadas no ponto de vista da razão, essas declarações deviam parecer monstruosas. Era lógico para um saduceu, cujo espírito era absolutamente contrário ao sobrenatural, recusar-se a admitir o que lhe parecia ser mentira ou ilusão. Entretanto ele estava em presença de um homem concreto, via-o, ouvia-o, podia confrontar sem custo a vida do novo profeta e verificar se ela estava conforme ao santo ensinamento que saía de seus lábios. Acho-me em uma situação inteiramente outra; trato com uma influência imperceptível, cujas expressões podem ser, em última análise, a voz do meu espírito interrogando-se a si mesmo. O que vejo em redor de mim é um espiritualismo vago, muitas vezes desprezível em suas asserções. Fiquei impressionado com o que chamais as vossas revelações, elas são indecisas ou estultas. Não acho a minha estrada. Não sei mesmo se sois uma entidade, não tenho meio de inteirar-me a vosso respeito, não ficaria mais adiantado mesmo que assumísseis a aparência humana. Tivestes algum dia uma personalidade ou sois somente uma influência? Eu ficaria baseado, de algum modo, se pudesse crer que fôsseis uma individualidade definida. Em resumo, desejo que me deixeis sozinho.

De fato, eu estava acabrunhado, por esse enérgico conflito entre as minhas opiniões fortemente preconcebidas e as de uma inteligência poderosa em afirmações e coerente em argumentos. Achava-me dilacerado por emoções contrárias e passava por uma crise de preparação necessária, como a continuação o provou. Deram-me esta resposta:)

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        Amigo: simpatizamos convosco e tentaremos ajudar-vos.

  • A vosso ver o céptico saduceu podia facilmente instruir-se, pois que tinha diante de si a pessoa definida de Jesus; mas, longe de ajudá-lo, essa presença lhe aumentava a perplexidade.
    • Era-lhe infinitamente mais difícil associar o filho do carpinteiro de Nazaré à nova revelação,
    • do que o é a nós associar-nos ao Supremo.
  • Ele reconhecia a necessidade de uma reforma, mas a interrogação:“Este não é o carpinteiro?” Era a seus olhos um obstáculo mais sério do que aos vossos: “Sois uma individualidade?
  • Ele não podia subjugar as dificuldades palpáveis que encontrasse.
  • A baixa origem, a humilde fraternidade, o desprezo do mundo, a missão refutada por homens cuja opinião se lhe impunha, tudo isso formava uma invencível barreira.
  • Se tomássemos as vossas palavras à letra, teríeis aprovado que o saduceu renunciasse a transpô-la.
  • Certamente, se ele não soube aproveitar a mensagem sem compreender o seu mensageiro, não seria culpado de nenhum pecado, desde que agisse sinceramente; apenas perdia uma ocasião de progresso, que aproveitaria quando estivesse mais bem preparado.
  • Convosco o caso é outro. Nada de dificuldades exteriores; estais simplesmente agitado pela dúvida intelectual; reconheceis que as palavras que vos foram dirigidas podem ser atribuídas a um Mestre, enviado de Deus; sentis a necessidade da comunicação; admitis a sua beleza; a sua grandeza moral não pode escapar àqueles que estão em estado de recebê-la; sabeis que ele tem origem em uma fonte exterior, fora de vós; conheceis que nenhum esforço inconsciente de vosso espírito pode produzir o que contradiz o conjunto dos vossos próprios pensamentos; nenhuma teoria de interrogação interior, por mais engenhosa que possa ser, vos satisfaria. A fase de dúvida por que passais é fugitiva e não pode exercer ação permanente em vós. Quando ela cessar, admirar-vos-eis de haver imaginado que eu não era uma entidade tão real como vós mesmo, como qualquer inteligência encarnada no que chamais “homem”.

        Sim, amigo, o tempo é tudo o que vos falta, tempo de paciente reflexão, tempo para meditar sobre os fins, tempo para apreciar a evidência e para adicionar os resultados. As palavras que vos abalaram tão profundamente são as de alguém que vê os vossos pensamentos e simpatiza com as dificuldades, com as objeções, que vos causam tanta perplexidade. Durante minha vida terrestre, exerci um papel proeminente em uma época difícil, bem semelhante à que precedeu a vinda do Cristo, e à que atravessais atualmente. É a lei em todos os ciclos onde o curso rotatório do tempo torna a trazer um estado de coisas semelhantes em intervalos certos.

  • O homem é mentalmente o mesmo no curso dos séculos; quanto mais se desenvolve, progride e pensa, mais sabe.
  • Mas também, tão certo como no mundo a noite sucede ao dia, virá tempo em que a sua concepção sobre a Divindade se apagará e em que a divina centelha nele existente implorará ao céu conhecimento mais completo de seu Deus.

Urge uma nova revelação; a antiga fez a sua obra e, das suas cinzas surge, à solicitação do homem, a nova que é, para a alma preparada, a voz do Alto a fortificá-lo e a consolá-lo. Isso sempre aconteceu, já o sabeis. Achareis vestígios, em toda a história, das relações de Deus com a Humanidade. Por que deixaria de ser assim? Por que ficaria muda a voz no momento em que o homem tem mais que nunca necessidade de socorro?
        Não conheceis nada a meu respeito, dizeis. Por que quereis confundir o mensageiro com a mensagem? Por que persistis em associar o que é divino ao veículo que o transporta?

Imperator

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(William Stainton Moses - O resultado desse argumento foi que, em consideração à fraqueza da minha fé, obtive o que eu tinha tão obstinadamente pedido. Depois de haver triunfado, vi a nulidade do dote pelo qual tinha eu lutado tanto. Comecei a apoderar-me da tendência do ensino e a não mais o identificar com a individualidade do mensageiro. Repassei em minha memória o tempo consagrado a esse argumento (do qual só parte posso publicar) e compreendi, como ainda o não tinha conseguido, o que era verdadeiramente para mim uma nova revelação. O mensageiro foi ofuscado pela importância da mensagem, e o desejo de provar ínfimos pontos de minudências perdeu-se no pleno brilho da convicção, que me deslumbrou então pela primeira vez.
        Esse estado foi passageiro. Eu estava muito ligado aos antigos hábitos de análise para ceder a uma impulsão entusiástica; demais, a primeira educação religiosa se firmava, e eu voltava às minhas velhas objeções teológicas. Dissipado o primeiro efeito, continuei a discussão dois dias depois. Nesse intervalo, tinha eu lido e relido tudo o que está impresso aqui e em muitas outras páginas íntimas demais para serem publicadas. Recordara os trabalhos de um ano e, não descobrindo neles nenhum desvio da verdade, cheguei à convicção de que o poder em atividade era:

  • 1º) exterior a mim;
  • 2º) verídico e consistente em suas afirmações;
  • 3º) puro e elevado no ensino religioso que trazia.

        Parecendo-me isso claro, comecei a examinar a questão de identidade e as pretensões alegadas.
        Quanto às questões materiais, senti que podiam esperar. Os pontos já estabelecidos em meu espírito me afirmaram no pensamento que a inteligência verídica do passado era ainda verídica. Mas então veio a dúvida: até que ponto tudo isso podia ser a obra de Satanás transfigurado em anjo de luz trabalhando para destruir a fé? Eis exatamente a minha objeção:

Não se pode dizer com espírito de crítica leal que o vosso ensino tenda ao que os homens chamam deísmo, panteísmo; não avilta a Deus colocando-o ao nível de uma força; mas não tende a entreter no espírito do homem uma dúvida quanto à verdade, qualquer que ela seja? Começa-se a crer que Deus é apenas um nome para designar a influência que penetra o Universo. A revelação de Deus vem “ab intra”, criada pela imaginação de modo algum revelada ao espírito. O Cristianismo é uma das numerosas formas de fé, todas mais ou menos enganadoras. O homem tateia cegamente desenvolvendo por e para ele mesmo idéias mais ou menos errôneas. Se Deus existe somente por concepção, cada homem tem o seu deus pertencente só a ele. A verdade absoluta, fora das matemáticas, não existe. E assim o homem, partindo do mais favorável ponto de vista, torna-se uma unidade insulada, a sós com o seu próprio espírito, respondendo às suas próprias perguntas, emitindo idéias que, depois de o terem satisfeito por um momento, dão lugar a outras que, por sua vez, cedem o passo a novas especulações; a menos em verdade que, quando o intelecto se torne fóssil, as velhas idéias fiquem permanentes por deixarem de viver.
        Essa pálida teoria suplantaria um Evangelho, que traz o divino “imprimatur”, cujos preceitos são precisos, cuja moralidade está em um grau de elevação acessível à maior parte dos homens e que é reforçado por um sistema – de recompensas e de punições – sempre reconhecido como necessário pela experiência nas relações com o homem. Esse Evangelho, assim apoiado, não teve bom êxito, como o dizeis, para elevar os homens até a um altíssimo cume de perfeição moral. Como posso então esperar que uma filosofia tal como a vossa, com uma sombra de bem, é verdade, mas somente uma sombra encoberta, vaga, impalpável, que destrói o passado sem construir o futuro; como crer que ela possa subjugar os espíritos rebeldes que resistiram a uma religião precisa em sua direção moral, poderosa por seus apelos aos interesses humanos, autorizada por uma origem divina, santificada pelo halo que emana da mais santa vida, que nunca foi oferecida à imitação humana: Isso me parece muito improvável. Não repito hoje o que disse a propósito da fonte nebulosa donde provém esse ensinamento. Não insisto sobre os perigos que prevejo, se ele fosse geralmente adotado; esse perigo está ainda muito afastado. Ao mesmo tempo – e é importante o fator no argumento – o vosso ensino, a meu ver, relaxa muitos laços que foram úteis, moral, social e religiosamente, à Humanidade. E quando mesmo o que conhecemos sob o nome de espiritualismo invadir o mundo, receio muito que depois de ter entusiasmado e fanatizado os homens por algum tempo, estes, longe de se melhorarem, mergulhem na mais cega superstição e na mais inepta credulidade. Posso enganar-me absolutamente, mas estou convencido do que afirmo. O vosso ensinamento, mesmo se fosse o que pretende, não poderia substituir aquele em que os homens crêem; eles não estão mais aptos a ser governados por ele do que a viver da nutrição dos anjos. Mesmo sob a forma mais elevada, ele é de utilidade duvidosa e, em seus aspectos mais vulgares, é pernicioso e desmoralizador.)

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        Em nome do Supremo vos saudamos. Não está em nosso poder ajudar-vos agora. As nossas palavras vos parecem diferentes do que o são. O abalo que comoveu o vosso espírito deixou-o em um estado pouco propício para ponderar e distinguir, sendo-vos preciso, pois, esperar o momento favorável. O aprendizado todavia vos é útil. Sabereis o porquê. A impulsão e o entusiasmo cederão ao conhecimento experimental e à convicção calma. A venerável crença, antes consentida que aceita, se amortecerá diante da descoberta de uma verdade nascida da investigação lógica. O que vos dissemos merece o mais aprofundado estudo.
        Desejamos que vos utilizeis de todas as ocasiões para reler com cuidado o que foi escrito e para meditar maduramente sobre o conjunto das nossas relações convosco. Exigimos ser julgados de acordo com a nossa inteira comunhão convosco, e também aos nossos atos; pelo efeito moral do nosso ensino, tanto quanto pela sua relação com os precedentes credos; pela atmosfera espiritual que nos acompanha, tanto quanto pela imperfeita enunciação que permite facilmente a uma lógica sutil achar evasivas.
        Presentemente, basta que reiteremos solenemente a nossa pretensão de sermos os portadores de uma comunicação divina.

  • As palavras que pronunciamos são as de Deus, compreendei-o; nenhum argumento adicional pode aumentar de importância a nossa asserção.
  • Não sois mais o joguete do malefício, assim como não estais transviado pelas fantasias de um cérebro doentio.
  • O mal não fala de Deus como falamos.
  • Nenhum credo pode exprimir o que dissemos nem apresentar a evidência tal como vo-la demos.

        Quando estiverdes mais calmo, vê-lo-eis. Se estivésseis com outra disposição, falar-vos-íamos do pecado de curiosidade, procurando descobrir o mal que pode ser ligado ao que é santo e divino, do mesmo modo como, quando o Santo Jesus vivia na Terra no meio das maldições e corrupções, os_demônios_que_Ele_expulsava se voltavam contra Ele pela boca dos devotos ortodoxos, que o acusavam de pactuar com Belzebu. Não nos inquietamos com responder a tais objeções que trazem em si mesmas a suficiente refutação. Quando puderdes pensar calmamente, daremos às vossas observações a resposta que nos parecer conveniente. Presentemente, o melhor é vos entregardes à meditação e à prece. Orai, amigo, com zelo e ardor, insisti a fim de serdes guiados para a verdade.
        Não deveis recusar este pedido, pois foi ditado pelo próprio tentador!

  • Orai incorporado a nós para serdes esclarecidos, terdes paciência e ficardes desembaraçado dos óbices dogmáticos que prendem vossa alma aspirante.
  • Orai para que, depois de libertado desses laços, recebais uma direção em vossa marcha ascendente, a fim de não irdes muito alto e de não tornardes a cair.
  • Orai para que a opinião dos outros não influa sobre a vossa e para obterdes a graça de escolher o caminho reto que convém às necessidades de vossa alma, pois cada um deve determinar o que lhe é preciso.
  • Orai para encarardes claramente a vossa responsabilidade, que é aceitar sem precipitação e rejeitar sem preconceito obstinado.
  • Além disso tudo, orai para serdes humilde, sincero, honesto, para que não altereis a obra de Deus por orgulho, obstinação ou indignidade.
  • As nossas preces se juntarão às vossas para atraírem uma comunicação de amor e de consolação emanada daqueles que velam ansiosamente pela propagação da verdade divina.

        Respondemos à vossa objeção no que concerne ao resultado genérico do movimento em seu conjunto. Mostramos-vos, oculto profundamente sob a superfície, algo que, sozinha, a vista não descobre.
        Em todas as épocas em que o conhecimento de Deus se desenvolve, há muitos adeptos silenciosos, ignorados do mundo, que avançam resolutamente para um saber mais perfeito; o mesmo sucede atualmente. Numerosos são eles, muito numerosos os que deploram a corrupção ilimitada dos pensamentos que os chocam e os afligem, mas não têm força para diminuir a fé baseada sobre a experiência.
        Demais, podemos informar-vos que as nossas relações com o plano material são governadas por leis que a vossa ciência ainda não definiu. Finalmente, nem nós nem vós conhecemos todas as coisas que se interferem ao nosso poder.

  • Não estamos em estado de promulgar leis para vos dar uma direção, pois apenas o conseguimos para nós outros.
  • A importância capital do assunto é pouco apreciada entre vós, e aqueles mesmos que se interessam pela nossa obra não a penetraram bastante. Muitas vezes neles predomina uma curiosidade banal, e até motivos baixos.
  • Não tomam conveniente cuidado com os médiuns, quando o instrumento não está de acordo com o diapasão, por afrouxado ou cansado.
  • As condições atmosféricas variam.
  • Nem sempre sabemos como proceder em presença dos diversos efeitos que são assim produzidos.
  • Os grupos não são convenientemente compostos e muitas coisas mal combinadas impedem que os fenômenos sejam sempre semelhantes em sua natureza ou provocados com precisa regularidade.   (Ver: Comunicabilidade dos Espíritos)

        O caráter incerto do fenômeno é proveniente disso e da obstrução contínua que os curiosos exercem atraindo Espíritos seus similares, perturbadores das esferas. Há muito a dizer sobre esse assunto, mas há outras matérias mais urgentes. O que indicamos pode induzir-vos à indulgência na apreciação das variantes de algumas reuniões. Não falamos daquelas em que a mentira é aceita: lá, os Espíritos menos desenvolvidos penetram a sós e o que nelas se passa é indigno de crença.
        Podeis ajudar-nos a esmagar a pueril curiosidade e a fraude. Pudestes verificar, em nosso próprio grupo, como as manifestações se desenvolveram progressivamente quando seguistes o nosso conselho; podeis convidar os outros a usar dos meios. Com o tempo, a nuvem se dissipará, pois as causas que a produzem dependem de vós, pelo menos tanto quanto de nós.

Imperator

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(William Stainton Moses - Todos os meus amigos imaginavam que eu não persistiria nas minhas objeções. Entretanto, a consciência não me permitia escolher outro caminho, era-me preciso procurar até aos limites extremos as provas da singular revelação que me agitava tão violentamente. Eu não estava satisfeito e, todavia, desejava estar em um ou em outro sentido. Depois da conclusão do argumento de Imperator, refleti sobre ele durante dois dias e, a 14 de julho de 1873, enumerei os pontos que, a meu ver, restavam obscuros:

  • 1º) a identidade;
  • 2º) a natureza e a obra de Jesus-Cristo;
  • 3º) a evidência exterior conforme as afirmações produzidas.

Pedi que por outro médium me fossem dadas comunicações independentes e externei a intenção de eu mesmo procurar um, com o fim de obter alguma coisa de autêntico. Contradisse também as opiniões emitidas em relação aos ensinos, sob as suas formas diversas. Exprimi lealmente a minha convicção de momento, mas desconhecia que as minhas observações apenas tinham por base um conhecimento muito incompleto; elas foram depois esclarecidas de diferentes modos; suficientemente, em todos os casos, para me certificar de que o que não fora ainda explicado sê-lo-ia oportunamente. Mas, nessa época, achava-me longe de estar convencido, e até manifestava enfaticamente a minha oposição. Eis a resposta:)

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        Alegais, amigo, que a vossa objeção tem sobre as nossas o mérito da candura e da perspicácia. Compreendemos a vossa perplexidade e não podemos supri-la; ainda que fosse isso possível, não o faríamos. Não aprovamos o programa que quereis impor, não por má-vontade, pois que desejamos convencer-vos, mas porque não somos onipotentes e porque só podemos influenciar-vos pelos processos ordinários de argumentos e evidência; por eles não atingirem ainda o vosso entendimento, é preciso esperar.
        Não vos acompanhamos no terreno em que vos colocais; as vossas perguntas já foram respondidas na medida conveniente e o que poderíamos acrescentar seria sem valor. É ocioso entrar em particularidades de opinião e é de importância secundária que o que dizemos vos pareça de acordo com o que fazemos ou fizemos. Não estais em condição de julgar imparcialmente. Fica também fora de combate que o resultado eventual do que chamais espiritualismo seja o que obtereis. A vossa vista é circunscrita, a nossa é mais clarividente e abrange mais vastos espaços. Reconheceis a grande moral do nosso ensino. Quer o admitais como o legítimo desenvolvimento do Cristianismo, quer acrediteis nele ou não, isso pouco importa, pois que o mundo tem necessidade dele e mais cedo ou mais tarde o receberá com reconhecimento.
        Esperávamos ter achado em vós um instrumento conveniente, que não abandonamos ainda, pois a crise que atravessais é transitória e à dúvida sucederá uma convicção firme. E ainda que fosse de outra maneira, nós nos curvaríamos e procuraríamos de novo o necessário para continuar a nossa tarefa. Poderemos lamentar vendo os nossos esforços mal interpretados ou retardados, mas não temos o poder de vos obrigar a aceitar uma crença que vos seria auxílio poderoso; deveis decidir em plena liberdade de espírito. Toda tentativa para provar a nossa identidade de acordo com o modo que quereis impor-nos seria pior que inútil; produziria um insucesso. Talvez nos seja possível dar, de tempos em tempos, provas colaterais, aproveitando para isso, com prazer, a oportunidade que nos for oferecida e, se as vossas relações conosco se prolongarem, verificareis mais tarde que essas provas são acumuladas em grande número.
        Mas a validez das nossas afirmações deve apoiar-se em base sólida. É para o terreno moral que vos chamamos; reconhecereis um dia, temos fé, que as manifestações_físicas são transitórias e insuficientes. O vosso espírito não está bastante cultivado para examinar com cuidado judicioso a evidência moral. Se, como o sustentamos, somos de Deus e não do demônio, não é verossímil que componhamos uma história que tivesse de ser recebida com zombaria; se somos oriundos do mal, como vos inclinais a crer, resta-vos demonstrar como uma história, que traz os sinais de uma origem divina, pode provir de fonte corrompida. Não nos incomodamos absolutamente com essas asserções. É para o fundo da mensagem e não para o caráter do mensageiro que invocamos a vossa atenção. Para nós mesmos é indiferente; para a obra de Deus e a verdade de Deus é sério. Para vós e o vosso futuro, é de importância vital. Estais ofuscado pela revelação de que fostes o centro e que vos foi dada copiosa e rapidamente. É preciso deixar-vos tempo a profunda e ponderada reflexão. Retiramo-nos para vos deixar em paz com os vossos pensamentos; não estareis só, deixar-vos-emos com guias mais vigilantes, mais experimentados. Essa conduta é preferível também para nós, porque, após uma palavra mais ou menos prolongada, saberemos se podemos recomeçar a tarefa ou se, depois de ter perdido um tempo precioso, é preciso trabalhar em outra parte. Seria bem penoso o desapontamento de ver cair, antes da maturação, um fruto que nos custou tanto labor e prece! Devemos conjuntamente agir de acordo com a luz guiadora das nossas ações. Como somos responsáveis por ela diante de Deus, devemos deixá-la exercer-se livremente. As nossas preces não serão nem menos freqüentes, nem menos ardorosas, e temos confiança de que elas serão mais eficazes. Adeus, e possa o grande Deus guiar-vos e dirigir-vos.

Imperator

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(William Stainton Moses - A 25 de julho de 1873, Imperator exerceu a sua influência em nossa sessão, deu algumas informações, mas não fez nenhuma alusão ao meu estado mental. Os outros membros do grupo não simpatizavam com a minha ansiedade e viram as suas perguntas respondidas e os seus problemas resolvidos. A inércia do meu espírito não afetou, porém, as condições do trabalho. Então um dos meus amigos, que havia pouco tempo deixara a Terra, foi trazido e forneceu-me uma prova evidente da sua identidade, citando-me fatos, conhecidos somente dele e de mim. (Ver: Relatos dos Espíritos) Ainda que impressionado, eu não me achava satisfeito. Aproximando-se a época das férias, deixei Londres para ir à Irlanda. Aí recebi curiosas comunicações concernentes a um amigo doente em Londres; mas nenhuma se relacionava com as perguntas a resolver. Fui em seguida ao País de Gales e recebi a 28 de agosto de 1873 uma comunicação de Imperator, a qual é necessário transcrever. Eu havia tentado voltar ao objeto das minhas preocupações e fui advertido de que a minha insistência me era prejudicial. As minhas condições físicas eram más e o meu estado mental estava perturbado, por isso convidaram-me a recordar o passado antes que procurar penetrar o futuro.)

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        Ocupai-vos do passado, meditai sobre o valor moral das nossas palavras. Não vos censuramos por dúvidas, que são a conseqüência natural da disposição particular do vosso espírito; apenas indicamos que essa tendência não vos é favorável para julgar com imparcialidade. A vossa natureza impetuosa vos conduz muito à pressa e o vosso espírito levado à dúvida vos mantém em uma agitação deplorável. É preciso dominar esse ardor e evitar formular conclusões prematuras, deixando de criticar pequenas particularidades e de dar importância ao que chamaremos a base do nosso ensino.
        Recordai-vos, amigo, de que as dúvidas e dificuldades que apresentais elevam uma barreira entre nós, detêm o nosso progresso e obrigam-nos a reservar muitas coisas. Isso é inevitável. Libertai o vosso espírito, de uma vez para sempre, pelo firme exercício da vossa vontade; libertai-o dos nevoeiros que obscurecem o julgamento. Esperamos que conseguireis isso depois do repouso e do insulamento. É essencial que o grupo com o qual nos comunicamos esteja em perfeita harmonia. As dúvidas são para nós como o nevoeiro da terra, que desvia o viajante; não podemos trabalhar no meio delas. É certo que um exame sincero e imparcial do passado afastará esse nevoeiro, que se dissipará à medida que o sol da Verdade se elevar no horizonte, e vós então ficareis admirado das perspectivas que se desenrolarem aos vossos olhos.
        Não rejeiteis a novidade pelo fato de ela vos surpreender. Procurai apreciá-la em seu valor ou colocai-a de lado, esperando outros esclarecimentos. Tudo vem à vontade de Deus para a alma sincera e leal. Tende presente ao pensamento que nada sabeis sobre inúmeras coisas novas e verdadeiras. Tendes muitas verdades novas a aprender e antigos erros a olvidar. Esperai e orai!

Imperator

        ...Tratamos as antigas opiniões como Jesus tratava a lei judaica. Ele anulou abertamente a letra, enquanto lhe renovava o espírito por eloqüentes e novas explicações. Procedemos com as opiniões e com os dogmas do Cristianismo moderno como Ele procedeu com a lei mosaica e com a ortodoxia dos fariseus e rabinos.

Imperator

- William Stainton Moses (*05/11/1839 - +05/9/1892)