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quinta-feira, 30 de outubro de 2008

ALLAN KARDEC, UM RACISTA BRUTAL E GROSSEIRO?

ALLAN KARDEC, UM RACISTA BRUTAL E GROSSEIRO?

A contaminação do preconceito no catolicismo tupiniquim

Continuarei, pois, a fazer todo o bem que puder, mesmo aos meus inimigos, porque o ódio não me cega; e eu lhes estenderia sempre a mão para tirá-los de um precipício, se a ocasião disso se apresentasse. (KARDEC).

É um fato constatado, que os adversários do Espiritismo dispensaram mil vezes mais força para abatê-lo, sem a isto chegar, do que seus partidários não o empregaram para propagá-lo. (KARDEC).

O Espiritismo não teme a luz; ele a chama sobre suas doutrinas, porque quer ser aceito livremente pela razão. Longe de temer, pela fé dos Espíritas, a leitura das obras que o combatem, diz: Lede tudo; o pró e o contra, e fazei a escolha com o conhecimento de causa (KARDEC).

Introdução

É interessante notar que nossos críticos, na tentativa de desmerecerem o Espiritismo, não medem conseqüências ao construir seus disparates. O que se percebe é que o Espiritismo incomoda muito certas pessoas e determinados grupos religiosos. Por que será que isso acontece? Quando uma coisa não tem nenhum valor, ninguém se preocupa com ela, mas quando se gasta muito tempo, tinta e papel, para tentar derrubar a Doutrina Espírita, é porque os contrários a vêem como algo de valor. Se bem que não é propriamente valor, pois é certo que mais vêem nela um perigo. Daí se explicar esse combate sistemático, muito embora explicar não seja justificar. Mas que tipo de perigo é esse? É o perigo de desestruturar a nefasta teologia dogmática, que vem sendo passada de geração a geração, teologia essa usada para manter o “status” de poder para uns e de dinheiro para outros.

E assim se cumpre um famoso ditado: “Só se atiram pedras em árvore que dá frutos”.

Henri Sausse, biógrafo de Kardec, disse:

Todos sabeis que a nossa cidade se pode honrar, a justo título, de ter visto nascer entre seus muros esse pensador tão arrojado quão metódico, esse filósofo sábio, clarividente e profundo, esse trabalhador obstinado cujo labor sacudiu o edifício religioso do Velho Mundo e preparou os novos fundamentos que deveriam servir de base à evolução e à renovação da nossa sociedade caduca, impelindo-a para um ideal mais são, mais elevado, para um adiantamento intelectual e moral seguros. (O que é o Espiritismo, p. 10).

Palavras que são suficientes para retirar da lama, em que quase todos os detratores do Espiritismo querem jogar o nome de Kardec, já que, por lhes faltarem argumentos suficientes para contestarem o pensamento, buscam atingir a pessoa, como se isso fosse resolver a questão. Conseguir-se-á enganar apenas aos néscios.

Mas, antes de entrar na análise dos textos, disponíveis na Internet através dos links: www.montfort.org.br/veritas/kardec.html, www.montfort.org.br/veritas/kardec2.html e www.montfort.org.br/veritas/kardec3.html, devemos colocar algo que pode provar, ao leitor mais atento, qual é realmente o pensamento de Kardec, para que, daí, cada um possa tirar suas próprias conclusões sobre o que coloca o presente contraditor do Espiritismo, o qual, diga-se de passagem, se envergonhou em colocar em sua assinatura o título de Professor, já que pressente que o que faz não cai bem a um educador, pois caluniar é próprio de gente sem qualquer tipo de educação moral.

Dados sobre Kardec e o seu pensamento

Talvez seja interessante apresentar algo sobre sua formação.

Educado na Escola de Pestalozzi, em Yverdun (Suíça), tornou-se um dos discípulos mais eminentes desse célebre professor, e um dos zelosos propagadores do seu sistema de educação, que exerceu uma grande influência sobre a reforma dos estudos da Alemanha e na França.

Dotado de uma inteligência notável e atraído para o ensino pelo seu caráter e as suas aptidões especiais, desde a idade de quatorze anos, ensinava o que sabia àqueles de seus condiscípulos que tinham adquirido menos do que ele. Foi nessa escola que se desenvolveram as idéias que deveriam, mais tarde, colocá-lo na classe dos homens de progresso e dos livres pensadores.

(...).

De 1835 a 1840, fundou, em seu domicílio, à rua Sèrvres, cursos gratuitos, onde ensinava química, física, anatomia comparada, astronomia, etc.: empreendimento digno de elogios em todos os tempos, mas sobretudo numa época em que um bem pequeno número de inteligências se aventurava a entrar nesse caminho (Obras Póstumas, pp. 11-12).

Será que alguém com a formação que recebeu e com a preocupação de ensinar gratuitamente a outras pessoas o seu saber, teria uma personalidade racista?

A Escola de Pestalozzi

Yverdun é um ponto de reunião para as crianças do mundo inteiro. É a escola do universalismo, da fraternidade das crianças que se tornarão, por sua vez, homens cheios de responsabilidade. Pestalozzi é o tipo de Educador atento, o Mestre severo e suave ao mesmo tempo, justo e caridoso. Em sua doutrina e seu exemplo, Rivail encontrou o modelo do homem íntegro que ele mesmo foi e que se tornou, também, o ideal da moral espírita.

(...).

Com efeito, foi em Yverdun e graças a Pestalozzi que Kardec aprendeu o justo sentido da educação, que deve ser ao mesmo tempo paternal e liberal. Já se disse, muito justamente, que a doutrina espírita é de suave severidade. É também esse o caráter do método de ensino ideado por Pestalozzi. As crianças formam ali uma grande família. Essa família torna-se assim o modelo dos espíritas, pois é universal.

De fato, a escola de Pestalozzi abre as portas aos alunos do mundo inteiro, por cima das diferenças de língua, de civilização, de raça ou de crença. Recebe crianças vindas da França, como Rivail, dos cantões suíços, mas também da Alemanha, do Hânover, de Saxe, da Prússia, da Rússia, do reino de Nápoles, da Espanha e da América. Percebe-se assim a vantagem dessa educação, que inculca à criança o sentimento da igualdade humana, da fraternidade e da tolerância. É aí que Allan Kardec, nessa família do coração, aprende os principais princípios morais do espiritismo... (Vida e Obra de Allan Kardec, p. 23).

Observar que no meio em que foi educado não existia qualquer tipo de racismo, por que então um discípulo aplicado de Pestalozzi seria um racista?

A jornalista Dora Incontri, com mestrado, doutorado e, em fase de conclusão, pós-doutorado em Educação, na USP, em seu livro Para entender Kardec, nos trás um fato interessante que muito precisamente nos dará uma idéia do verdadeiro caráter de Kardec. Vejamos:

“... É bom lembrar que, na Sociedade de Estudos Espíritas de Paris, havia um Camille Flammarion, astrônomo, e um calceteiro (operário braçal que fazia as calçadas de Paris, de quem Kardec noticia a morte) e ambos eram membros da Sociedade”. (INCONTRI, 2004, p. 121).

Isso é característica de uma pessoa racista?

Para clarear mais ainda essa questão, de Kardec ser racista, iremos colocar alguns trechos de suas obras que, por certo, evidenciará qual é verdadeiramente a sua maneira de pensar.

[...] Possam nossos irmãos futuros se lembrarem deste dia memorável em que os Espíritas lioneses, dando o exemplo de união e de concórdia, colocaram, nesses novos banquetes o primeiro passos da aliança que existir entre os Espíritas de todos os países do mundo; porque o Espiritismo, restituindo ao Espírito o seu verdadeiro papel na criação, constatando a superioridade da inteligência sobre a matéria, apaga naturalmente todas as distinções estabelecidas entre os homens segundo as vantagens corpóreas e mundanas, sobre as quais ó o orgulho fundou castas e os estúpidos preconceitos de cor. O Espiritismo, alargando o círculo da família pela pluralidade das existências, estabelece entre os homens uma fraternidade mais racional do que aquela que não tem por base senão os frágeis laços da matéria, porque esses laços são perecíveis, ao passo que os do Espírito são eterno. Esses laços, uma vez bem compreendidos, influirão pela força das coisas, sobre as relações sociais, e mais tarde sobre a Legislação social, que tomará por base as leis imutáveis do amor e da caridade; então ver-se-á desaparecerem essas anomalias que chocam os homens de bom senso, como as leis da Idade Média chocam os homens de hoje...” (Revista Espírita 1861, pp. 297-298). (grifo nosso).

O homem de bem

O verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza. Se ele interroga a consciência sobre seus próprios atos, a si mesmo perguntará se violou essa lei, se não praticou o mal, se fez todo o bem que podia, se desprezou voluntariamente alguma ocasião de ser útil, se ninguém tem qualquer queixa dele; enfim, se fez a outrem tudo o que desejara lhe fizessem.

Deposita fé em Deus, na Sua bondade, na Sua justiça e na Sua sabedoria. Sabe que sem a Sua permissão nada acontece e se Lhe submete à vontade em todas as coisas.

Tem fé no futuro, razão por que coloca os bens espirituais acima dos bens temporais.

Sabe que todas as vicissitudes da vida, todas as dores, todas as decepções são provas ou expiações e as aceita sem murmurar.

Possuído do sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o bem pelo bem, sem esperar paga alguma; retribui o mal com o bem, toma a defesa do fraco contra o forte, e sacrifica sempre seus interesses à justiça.

Encontra satisfação nos benefícios que espalha, nos serviços que presta, no fazer ditosos os outros, nas lágrimas que enxuga, nas consolações que prodigaliza aos aflitos. Seu primeiro impulso é para pensar nos outros, antes de pensar em si, é para cuidar dos interesses dos outros antes do seu próprio interesse. O egoísta, ao contrário, calcula os proventos e as perdas decorrentes de toda ação generosa.

O homem de bem é bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças, nem de crenças, porque em todos os homens vê irmãos seus.

Respeita nos outros todas as convicções sinceras e não lança anátema aos que como ele não pensam.

Em todas as circunstâncias, toma por guia a caridade, tendo como certo que aquele que prejudica a outrem com palavras malévolas, que fere com o seu orgulho e o seu desprezo a suscetibilidade de alguém, que não recua à idéia de causar um sofrimento, uma contrariedade, ainda que ligeira, quando a pode evitar, falta ao dever de amar o próximo e não merece a clemência do Senhor.

Não alimenta ódio, nem rancor, nem desejo de vingança; a exemplo de Jesus, perdoa e esquece as ofensas e só dos benefícios se lembra, por saber que perdoado lhe será conforme houver perdoado.

É indulgente para as fraquezas alheias, porque sabe que também necessita de indulgência e tem presente esta sentença do Cristo: “Atire-lhe a primeira pedra aquele que se achar sem pecado”.

Nunca se compraz em rebuscar os defeitos alheios, nem, ainda, em evidenciá-los. Se a isso se vê obrigado, procura sempre o bem que possa atenuar o mal.

Estuda suas próprias imperfeições e trabalha incessantemente em combatê-las. Todos os esforços emprega para poder dizer, no dia seguinte, que alguma coisa traz em si de melhor do que na véspera.

Não procura dar valor ao seu espírito, nem aos seus talentos, a expensas de outrem; aproveita, ao revés, todas as ocasiões para fazer ressaltar o que seja proveitoso aos outros.

Não se envaidece da sua riqueza, nem de suas vantagens pessoais, por saber que tudo o que lhe foi dado pode ser-lhe tirado.

Usa, mas não abusa dos bens que lhe são concedidos, porque sabe que é um depósito de que terá de prestar contas e que o mais prejudicial emprego que lhe pode dar é o de aplicá-lo à satisfação de suas paixões.

Se a ordem social colocou sob o seu mando outros homens, trata-os com bondade e benevolência, porque são seus iguais perante Deus; usa da sua autoridade para lhes levantar o moral e não para os esmagar com o seu orgulho. Evita tudo quanto lhes possa tornar mais penosa a posição subalterna em que se encontram.

O subordinado, de sua parte, compreende os deveres da posição que ocupa e se empenha em cumpri-los conscienciosamente. (Cap. XVII, nº. 9.).

Finalmente, o homem de bem respeita todos os direitos que aos seus semelhantes dão as leis da Natureza, como quer que sejam respeitados os seus.

Não ficam assim enumeradas todas as qualidades que distinguem o homem de bem; mas, aquele que se esforce por possuir as que acabamos de mencionar, no caminho se acha que a todas as demais conduz. (Evangelho Segundo o Espiritismo, pp. 272-274). (grifo nosso).

Com a reencarnação, desaparecem os preconceitos de raças e de castas, pois o mesmo Espírito pode tornar a nascer rico ou pobre, capitalista ou proletário, chefe ou subordinado, livre ou escravo, homem ou mulher. De todos os argumentos invocados contra a injustiça da servidão e da escravidão, contra a sujeição da mulher à lei do mais forte, nenhum há que prime, em lógica, ao fato material da reencarnação. Se, pois, a reencarnação funda numa lei da Natureza o princípio da fraternidade universal, também funda na mesma lei o da igualdade dos direitos sociais e, por conseguinte, o da liberdade. (A Gênese, p. 31). (grifo nosso).

Somente o progresso moral pode assegurar aos homens a felicidade na Terra, refreando as paixões más; somente esse progresso pode fazer que entre os homens reinem a concórdia, a paz, a fraternidade.

Será ele que deitará por terra as barreiras que separam os povos, que fará caiam os preconceitos de casta e se calem os antagonismos de seitas, ensinando os homens a se considerarem irmãos que têm por dever auxiliarem-se mutuamente e não destinados a viver à custa uns dos outros.

Será ainda o progresso moral que, secundado então pelo da inteligência, confundirá os homens numa mesma crença fundada nas verdades eternas, não sujeitas a controvérsias e, em conseqüência, aceitáveis por todos.

A unidade de crença será o laço mais forte, o fundamento mais sólido da fraternidade universal, obstada, desde todos os tempos pelos antagonismos religiosos que dividem os povos e as famílias, que fazem sejam uns, os dissidentes, vistos, pelos outros, como inimigos a serem evitados, combatidos, exterminados, em vez de irmãos a serem amados. (A Gênese, pp. 414-415).

Essa fase já se revela por sinais inequívocos, por tentativas de reformas úteis e que começam a encontrar eco. Assim é que vemos fundar-se uma imensidade de instituições protetoras, civilizadoras e emancipadoras, sob o influxo e por iniciativa de homens evidentemente predestinados à obra da regeneração; que as leis penais se vão apresentando dia a dia impregnadas de sentimentos mais humanos. Enfraquecem-se os preconceitos de raça, os povos entram a considerar-se membros de uma grande família; pela uniformidade e facilidade dos meios de realizarem suas transações, eles suprimem as barreiras que os separavam e de todos os pontos do mundo reúnem-se em comícios universais, para as justas pacificas da inteligência. (A Gênese, pp. 415-416). (grifo nosso).

Com efeito, suponhamos uma sociedade de homens bastante desinteressados, bons e benevolentes para viverem, entre si, fraternalmente, não haveria entre eles nem privilégios nem direitos excepcionais, sem o que não haveria ali fraternidade. Tratar alguém como irmão, é tratá-lo de igual para igual; é querer-lhe o que desejaria para si mesmo; num povo de irmãos, a igualdade será a conseqüência de seus sentimentos, de sua maneira de agir, e se estabelecerá pela forças das coisas. Mas qual o inimigo da igualdade: É o orgulho. O orgulho, que, por toda a parte, quer primar e dominar, que vive de privilégios e de exceções, pode suportar a igualdade social, mas não a fundará jamais e a destruirá na primeira ocasião. Ora, sendo o orgulho, ele também, uma das pragas da sociedade, enquanto não for destruído, oporá uma barreira à verdadeira igualdade. (Obras Póstumas, p. 230). (grifo nosso).

Fora da caridade não há salvação.

Estes princípios, para mim, não são apenas uma teoria, eu os coloco em prática; faço o bem tanto quanto o permite a minha posição; presto serviço quanto posso; os pobres jamais foram rejeitados em minha casa, ou tratados com dureza; a todo momento não foram sempre recebidos com a mesma benevolência? Jamais lamentei meus passos e minhas diligências para prestar serviço; pais de família não saíram da prisão pelos meus cuidados? Certamente não me cabe fazer o inventário do bem que pude fazer; mas, num momento em que parece tudo esquecer-se, é-me muito permitido, creio, chamar à minha lembrança que a minha consciência me diz que não fiz mal a ninguém, que fiz todo o bem que pude, e isso o repito sem pedir conta de opinião; sob esse aspecto, a minha consciência está tranqüila e de alguma ingratidão com a qual pude se pago, em mais de uma ocasião, isso não poderia ser para mim um motivo para deixar de fazê-lo; a ingratidão é uma das imperfeições da Humanidade, e como nenhum de nós está isento de censuras, é preciso saber passar aos outros pelo que se nos passa a nós mesmos, a fim de que se possa dizer, como J. C.: “que aquele que está sem pecado, lhe atire a primeira pedra”. Continuarei, pois, a fazer todo o bem que puder, mesmo aos meus inimigos, porque o ódio não me cega; e eu lhes estenderia sempre a mão para tirá-los de um precipício, se a ocasião disso se apresentasse.

Eis como entendo a caridade cristã; compreendo uma religião que nos ordena retribuir o mal com o bem, com mais forte razão restituir o bem pelo bem. Mas não compreenderia jamais a que nos prescrevesse retribuir o mal com o mal. (Pensamentos íntimos de Allan Kardec; documento encontrado em seus papéis). (Obras Póstumas, p. 327).

Não obstante todos estes elevados predicados morais, vejamos o que nos coloca um desses críticos, em seu texto.

O texto objeto de análise

Toda a fala do crítico, que será objeto de análise, nós a colocaremos em destaque, por sombreamento, com afastamento em ambas as margens em relação ao nosso texto.

ALLAN KARDEC, UM RACISTA BRUTAL E GROSSEIRO.

Orlando Fedeli

É bem sabido que o darwinismo suscitou uma grande onda racista. Pois se a luta pela sobrevivência causava a seleção das espécies, a luta entre as raças causaria o aperfeiçoamento da espécie. Assim, o nazismo foi um dos efeitos do darwinismo.

O que, porém se deixa à sombra, é a influência do darwinismo no racismo de Allan Kardec, o fundador do espiritismo "moderno".

Interessante a tentativa do crítico em relacionar o darwinismo com onda racista, para ao final relacioná-lo a Kardec. Será que essa grande onda racista também não ocorreu como resultado das cruzadas ou da inquisição? Querer implantar uma só religião no mundo, a pretexto de ser a única verdadeira, nem que seja a custa de ferro e fogo, não seria um “nazismo religioso”?

Se Kardec realmente fosse um racista, como pretende o opositor, ele o seria quem sabe pela sua orientação religiosa, pois somente após meio século de existência é que veio a estudar as manifestações dos espíritos, origem dos princípios da Doutrina Espírita. Adivinhe qual era a religião de Kardec? Aguarde um pouco que iremos dizer-lhe.

Kardec, cujo verdadeiro nome era Hypolite Léon Dénizard Rivail, foi um homem que aprendeu bem mal a Gnose típica das sociedades secretas a que pertenceu. Nessas sociedades do século XIX, se ensinava uma doutrina mais ou menos influenciada pelo romantismo, doutrina em geral originada do cabalista Jacob Boehme. Se Kardec aprendeu mal essa doutrina teosófica e romântica, ensinou-a pior ainda. Daí nasceu o sistema gnóstico grosseiro e cheio de contradições do espiritismo moderno.

Gostaríamos que nos fosse apresentada a relação das sociedades secretas de que Kardec fez parte, indicada, obviamente a fonte de consulta.

Quanto da refutação de outro texto de Orlando Fedeli, intitulado “Reencarnação, argumentos católicos contra os fundamentos do Espiritismo”, nós, em resposta, fizemos um intitulado “Reencarnação, argumentos católicos contrários”, onde respondemos essa questão de relacionar Espiritismo com a gnose. Para economia, não voltaremos ao assunto, entretanto, sugerimos aos interessados que leiam nosso texto: Reencarnação, Argumentos Católicos Contrários.

Ainda poderemos acrescentar que até o ano de 1854, aos seus cinqüenta anos, Kardec era católico, daí podemos dizer que o seu caráter foi formado no meio católico. Assim se algo de ruim existiu em sua personalidade, como quer a má-fé desse nosso crítico, a culpa não é do Espiritismo, não é mesmo?

Lendo os livros de Kardec, tem-se a impressão de ler textos de um aluno de ginásio que, não tendo compreendido bem a lição que recebeu, e com presunção própria aos ignorantes, escreve obras sem nexo, contraditórias e mal feitas. O resultado é uma Gnose de “basse cour”, isto é, uma “gnose de galinheiro”.

Por ela se passa pisando como em “lama” pseudo intelectual.

As circunstâncias de agora nos obriga a colocar um pouco da biografia de Kardec. Disse-nos Henri Sausse:

Rivail Denizard fez em Lião os seus primeiros estudos e completou em seguida a sua bagagem escolar, em Yverdun (Suíça), com o célebre professor Pestalozzi, de quem cedo se tornou um dos mais eminentes discípulos, colaborador inteligente e dedicado. Aplicou-se, de todo o coração, à propaganda do sistema de educação que exerceu tão grande influência sobre a reforma dos estudos na França e na Alemanha. Muitas vezes, quando Pestalozzi era chamado pelos governos, um pouco de todos os lados, para fundar institutos semelhantes ao de Yverdun, confiava a Denizard Rivail o encargo de o substituir na direção da sua escola. ... Era bacharel em letras e em ciências e doutor em medicina, tendo feito todos os estudos médicos e defendido brilhantemente sua tese. Lingüista insigne, conhecia a fundo e falava corretamente o alemão, o inglês, o italiano e o espanhol; conhecia também o holandês, e podia facilmente exprimir-se nesta língua.

[...] Organizou também em sua casa, à rua de Sèvres, cursos gratuitos de química, física, astronomia e anatomia comparada, de 1835 a 1840, e que eram muitos freqüentados.

Membro de várias sociedades sábias, notadamente da Academia real d’Arras, foi premiado, por concurso, em 1831, pela apresentação da sua notável memória: Qual o sistema de estudo mais em harmonia com as necessidades da época?.

Dentre as suas numerosas obras convém citar, por ordem cronológica: Plano apresentado para o melhoramento da instrução pública, em 1828; em 1829, segundo o método de Pestalozzi, ele publicou, para uso das mães de família e dos professores, o Curso prático e teórico de aritmética; em 1831 fez aparecer a Gramática francesa clássica; em 1846 o Manual dos exames para obtenção dos diplomas de capacidade, soluções racionais das questões e problemas de aritmética e geometria; em 1848 foi publicado o Catecismo gramatical da língua francesa; finalmente, em 1849, encontramos o Sr. Rivail professor no Liceu Polimático, regendo as cadeiras de Fisiologia, Astronomia, Química e Física. Em uma obra apreciada resume seus cursos, e depois publica: Ditados normais dos exames na Municipalidade e na Sorbona; Ditados especiais sobre as dificuldades ortográficas.

Tendo sido essas diversas obras adotadas pela Universidade de França,... Seu nome era conhecido e respeitado, seus trabalhos justamente apreciados, muito antes que ele imortalizasse o nome de Allan Kardec. (O que é o Espiritismo, pp. 11-15) (grifos nossos).

Se Kardec “fez textos para alunos de ginásio” e “é pseudo-intelectual” que dirá do nosso crítico, pois, até onde sabemos, não contribuiu em nada para educação brasileira, se o fez é tão irrelevante que nunca ouvimos falar dele. Os dados que apresentamos acima são suficientes para ver que o nosso crítico é quem quer jogar lama em cima do autor, cuja obra não tem competência para contra-argumentar.

Ficamos a pensar: por que será que o Espiritismo tem atraído tanta gente? No censo 2002, o IBGE constatou que onde existe relativamente a maior quantidade de pessoas com maior tempo de estudo é justamente no Espiritismo. Do que se conclui que é entre os Espíritas que há o maior contingente de pessoas portadoras de curso superior. São eles, por ironia do destino, os “alunos do ginásio” que estudam Kardec?

Pois lendo -- com repugnância -- o livro A Gênese de Allan Kardec (Ed. Lake, São Paulo, 1a edição, comemorativa do 300º aniversário dessa obra) pode-se encontrar o seguinte texto, escandalosamente racista, do fundador do espiritismo moderno:

"O progresso não foi, pois, uniforme em toda a espécie humana; as raças mais inteligentes naturalmente progrediram mais que as outras, sem contar que os Espíritos, recentemente nascidos na vida espiritual, vindo a se encarnar sobre a Terra desde que chegaram em primeiro lugar, tornam mais sensíveis a diferença do progresso (sic!). Com efeito, seria impossível atribuir a mesma antiguidade de criação aos selvagens que mal se distinguem dos macacos, que aos chineses, e ainda menos aos europeus civilizados". (Allan Kardec, A Gênese, ed. cit. p. 187, o sublinhado e o negrito são meus).

Kardec afirma aí o mais grosseiro e brutal racismo.

Por ter lido com “repugnância” não conseguiu entender as colocações de Kardec. Um crítico sério leria com mais atenção para não falar inverdades, mas não estamos tratando com um desse naipe, pois esse faz da calúnia sua arma de combate.

Quanto à questão de mal se distinguir dos macacos, devemos informar que na Academia Nacional de Ciências dos EUA, Goodman e sua equipe compararam 97 genes de humanos, chimpanzés, gorilas, orangotangos e outros macacos e descobriram que o grau de semelhança, nas regiões do DNA analisadas, é de 99,4% entre seres humanos e chimpanzés. Daí poder se afirmar que realmente a raça humana pouco se difere da dos “macacos”. Por mais que isso venha a ferir o orgulho de alguns, essa é a realidade insofismável.

E sobre a origem do homem corporal, disse Kardec:

Do ponto de vista corporal, e puramente anatômico, o homem pertence à classe dos mamíferos, dos quais não difere senão por nuanças na forma exterior; de resto, a mesma composição química que todos os animais, os mesmos órgãos, as mesmas funções e os mesmos modos de nutrição, de respiração, de secreção, de reprodução; ela nasce, vive e morre nas mesmas condições, e, em sua morte, seu corpo se decompõe como o de tudo o que vive. Não há em seu sangue, em sua carne, em seus ossos, um átomo diferente daqueles que se encontram no corpo dos animais; como estes, em morrendo, retorna à terra o oxigênio, o hidrogênio, o azoto e o carbono que estavam combinados para formá-lo, e vão, por novas combinações, formar novos corpos minerais, vegetais e animais. A analogia é tão grande que se estudam as funções orgânicas sobre certos animais, quando as experiências não podem ser feitas nele mesmo.

Na classe dos mamíferos, o homem pertence à ordem dos bímanos. Imediatamente abaixo dele vêm os quadrúmanos (animais de quatro mãos) ou macaco, dos quais uns, como o orangotango, o chimpanzé, o mono têm certos comportamentos do homem, a tal ponto que, há muito tempo, são designados sobre o nome de homens da floresta; como ele, caminham eretos, servem-se de bastões, constroem suas cabanas, e levam os alimentos à boca com a mão, sinais característicos.

Por pouco que se observe a escala dos seres vivos do ponto de vista do organismo, reconhece-se que, desde o líquen até a árvore, e depois do zoófito até o homem, há uma corrente se elevando gradualmente sem solução de continuidade, e da qual todos os anéis têm um ponto de contato com o anel precedente; seguindo-se passo a passo a série de seres, dir-se-ia que cada espécie é um aperfeiçoamento, uma transformação da espécie imediatamente inferior. Uma vez que o corpo do homem está em condições idênticas aos outros corpos, química e constitucionalmente, que ele nasce, vive e morre do mesmo modo, deve ter sido formado nas mesmas condições.

Quanto isso possa custar ao seu orgulho, o homem deve se resignar a não ver, em seu corpo material, senão o último anel da animalidade sobre a Terra. O inexorável argumento dos fatos aí está, contra o qual protestaria em vão.

Mas, quanto mais o corpo diminui de valor aos seus olhos, mais o princípio espiritual cresce em importância; se o primeiro o coloca ao nível do animal, o segundo o eleva a uma altura incomensurável. Vemos o círculo em que se detém o animal: não vemos o limite onde pode chegar o Espírito do homem. (A Gênese, pp. 177-178).

Ainda em A Gênese, quando fala da Encarnação dos Espíritos, Kardec fala exatamente o oposto do que o crítico apresenta acima, entretanto, por absoluta má-fé, deixa de abordar todo o pensamento de Kardec, que, em complemento ao citado acima, disse:

Esses Espíritos dos selvagens, entretanto, pertencem também à Humanidade; esperarão um dia o nível de seus primogênitos, mas não será isso certamente nos corpos da mesma raça física, impróprios a um certo desenvolvimento intelectual e moral. Quando o instrumento não mais estiver em relação com o seu desenvolvimento, emigrarão desse meio para se encarnarem num grau superior, e assim por diante até que hajam conquistado todos os graus terrestres, depois do que deixarão a Terra, para passar a outros mundos, mais e mais avançados. (Revista Espírita, abril de 1862, p. 97: Perfectibilidade da raça negra). (A Gênese, p. 192).

Não sabemos de onde o brilhante professor tirou que Kardec estaria aí sendo racista. Mais adiante, comentaremos esse polêmico artigo. Quer goste ou não, existem pessoas mais inteligentes que outras e povos mais inteligentes que outros, mas isso não quer dizer, como bem coloca Kardec, que isso será por toda a eternidade. Se a desigualdade fosse para toda eternidade, Deus seria injusto, especialmente se considerarmos o ponto de vista do professor, em defesa da vida única, marcada por diferentes durações e oportunidades, a decidir sobre o destino eterno do homem. O que agrava ainda mais as desigualdades. A parábola dos talentos (Lc 12,48) mostra justamente que Deus pode dar mais a uns do que a outros, mas não é dito, em nenhum momento, que Deus dará a mesma recompensa a todos eles, e sim na mesma medida em que foi dado, o que deita por terra a tese do “destino eterno” que nivela todos para sempre, ou num céu ou num inferno, como preconiza o catolicismo. Se sabemos que as penas são proporcionais, como ensina a parábola supracitada, então fica ainda mais claro que as desigualdades não são o fim, mas o meio necessário pelo qual evoluímos rumo à perfeição máxima possível de um ser humano. Mas é interessante a distorção do professor, pois mesmo se disséssemos que existe raça negra, não estaremos diante de uma afirmativa racista e sim uma constatação do que a natureza produziu, em última instância Deus. Para corroborar o que dissemos, citamos essas opiniões.

Philip Yam - editor de notícias de Scientif American: “É óbvio que alguns nascem mais inteligentes que outros”. (Viver Mente&cérebro, p. 7).

Linda S. Gottfredoson, socióloga, professora de estudos educacionais da Universidade de Delaware desde 1986 e co-diretora do Projeto Para o Estudo da Inteligência e Sociedade de Delaware-Johns Hopkins:

A realidade é que a mãe Natureza não é equânime. As pessoas são desiguais em seu potencial intelectual – elas nascem desta forma, assim como vêm ao mundo com diferentes potenciais para a altura, a beleza física, o pendor artístico, a aptidão atlética e outras características. Embora experiências subseqüentes modelem esse potencial, engenharia social alguma conseguirá transformar indivíduos com tal divergência de aptidões mentais em intelectualmente idênticos. (Viver Mente&cérebro, p. 22).

Achamos por bem fazer isso, pois que haverá certamente pessoas que querem distorcer o nosso pensamento, como o fizeram com o de Kardec.

Ao final o nosso crítico repetirá esse artigo de Kardec cujo trecho citamos, por isso deixaremos para lá o complemento de nossos argumentos.

Espalhou a lama da calunia: “Kardec afirma aí o mais grosseiro e brutal racismo”.

ALLAN KARDEC, UM RACISTA BRUTAL E GROSSEIRO - 2

Vimos já várias citações escandalosamente racistas de Allan Kardec, frutos de sua doutrina caudatária do evolucionismo darwinista.

Sem querer ser racista, mas esse professor está no mínimo é doido. Apresenta até agora apenas uma passagem, que, por sinal, já demonstramos não haver racismo por parte de Kardec, e diz que “vimos várias citações escandalosamente racistas”. Veja bem, caro leitor, é uma pessoa assim que quer derrubar Kardec, quanta presunção!

Hoje, queremos apresentar mais um texto desse autor, que, embora tendo baixíssimo nível intelectual, vem causando muito mal, particularmente no Brasil.

Já falamos sobre isso, desnecessário, portanto, voltarmos ao assunto, já que o leitor tem elementos de sobra para ver de que lado sopra o vento da razão.

Na obra intitulada O Livro dos Espíritos, Allan Kardec pergunta:

"6 --Por que há selvagens e homens civilizados? Se tomarmos uma criança hotentote recém nascida e a educarmos nas melhores escolas, fareis dela, um dia, um Laplace ou um Newton?" (Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Instituto de Difusão Espírita, Araras, São Paulo, sem data, capítulo V, p. 126).

Já a pergunta denota um certo racismo, pois supõe que uma criança hotentote, ainda que educada nas melhores escolas, não teria possibilidade natural de alcançar o nível de um cientista branco.

Novamente a má-fé é a arma desse crítico, pois pelo seu saber intelectual não podemos admitir que não tenha entendido o pensamento de Kardec. Mas propositalmente deixa de citar tudo o que Kardec disse nesse item. Assim, vejamos o que deixou de colocar:

Se não há reencarnação, só há, evidentemente, uma existência corporal. Se a nossa atual existência corpórea é única, a alma de cada homem foi criada por ocasião do seu nascimento, a menos que se admita a anterioridade da alma, caso em que se caberia perguntar o que era ela antes do nascimento e se o estado em que se achava não constituía uma existência sob forma qualquer. Não há meio termo: ou a alma existia, ou não existia antes do corpo. Se existia, qual a sua situação? Tinha, ou não, consciência de si mesma? Se não tinha, é quase como se não existisse. Se tinha individualidade, era progressiva, ou estacionária? Num e noutro caso, a que grau chegara ao tomar o corpo? Admitindo, de acordo com a crença vulgar, que a alma nasce com o corpo, ou, o que vem a ser o mesmo, que, antes de encarnar, só dispõe de faculdades negativas, perguntamos:

1º Por que mostra a alma aptidões tão diversas e independentes das idéias que a educação lhe fez adquirir?

2º Donde vem a aptidão extranormal que muitas crianças em tenra idade revelam, para esta ou aquela arte, para esta ou aquela ciência, enquanto outras se conservam inferiores ou medíocres durante a vida toda?

3º Donde, em uns, as idéias inatas ou intuitivas, que noutros não existem?

4º Donde, em certas crianças, o instituto precoce que revelam para os vícios ou para as virtudes, os sentimentos inatos de dignidade ou de baixeza, contrastando com o meio em que elas nasceram?

5º Por que, abstraindo-se da educação, uns homens são mais adiantados do que outros?

6º Por que há selvagens e homens civilizados? Se tomardes de um menino hotentote recém-nascido e o educardes nos nossos melhores liceus, fareis dele algum dia um Laplace ou um Newton?

Qual a filosofia ou a teosofia capaz de resolver estes problemas? É fora de dúvida que, ou as almas são iguais ao nascerem, ou são desiguais. Se são iguais, por que, entre elas, tão grande diversidade de aptidões? Dir-se-á que isso depende do organismo. Mas, então, achamo-nos em presença da mais monstruosa e imoral das doutrinas. O homem seria simples máquina, joguete da matéria; deixaria de ter a responsabilidade de seus atos, pois que poderia atribuir tudo às suas imperfeições físicas. Se almas são desiguais, é que Deus as criou assim. Nesse caso, porém, por que a inata superioridade concedida a algumas? Corresponderá essa parcialidade à justiça de Deus e ao amor que Ele consagra igualmente a todas suas criaturas?

Admitamos, ao contrário, uma série de progressivas existências anteriores para cada alma e tudo se explica. Ao nascerem, trazem os homens a intuição do que aprenderam antes: São mais ou menos adiantados, conforme o número de existências que contem, conforme já estejam mais ou menos afastados do ponto de partida. Dá-se aí exatamente o que se observa numa reunião de indivíduos de todas as idades, onde cada um terá desenvolvimento proporcionado ao número de anos que tenha vivido. As existências sucessivas serão, para a vida da alma, o que os anos são para a do corpo. Reuni, em certo dia, um milheiro de indivíduos de um a oitenta anos; suponde que um véu encubra todos os dias precedentes ao em que os reunistes e que, em conseqüência, acreditais que todos nasceram na mesma ocasião. Perguntareis naturalmente como é que uns são grandes e outros pequenos, uns velhos e jovens outros, instruídos uns, outros ainda ignorantes. Se, porém, dissipando-se a nuvem que lhes oculta o passado, vierdes a saber que todos hão vivido mais ou menos tempo, tudo se vos tornará explicado. Deus, em Sua justiça, não pode ter criado almas desigualmente perfeitas. Com a pluralidade das existências, a desigualdade que notamos nada mais apresenta em oposição à mais rigorosa eqüidade: é que apenas vemos o presente e não o passado. A este raciocínio serve de base algum sistema, alguma suposição gratuita? Não. Partimos de um fato patente, incontestável: a desigualdade das aptidões e do desenvolvimento intelectual e moral e verificamos que nenhuma das teorias correntes o explica, ao passo que uma outra teoria lhe dá explicação simples, natural e lógica. Será racional preferir-se as que não explicam àquela que explica? (Livro dos Espíritos, pp. 147-149).

O que Kardec disse é exatamente o contrário do que quer o nosso crítico que os outros pensem dele. Kardec demonstra claramente, em seus esclarecimentos, que certas diferenças existentes entre os seres humanos não podem ser explicadas senão através da reencarnação. Único sistema em que todos os seres são iguais e recebem o mesmo tratamento por parte de Deus.

Allan Kardec explicita seu racismo brutal e grosseiro na resposta que dá a essa pergunta, por ele mesmo feita:

"Em relação à sexta questão, dir-se-á, sem dúvida, que o Hotentote é de uma raça inferior; então, perguntaremos se o Hotentote é um homem ou não. Se é um homem, por que Deus o fez, e à sua raça, deserdado dos privilégios concedidos à raça caucásica? Se não é um homem, porque procurar fazê-lo cristão ?" (Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Instituto de Difusão Espírita, Araras, São Paulo, sem data, capítulo V, p. 127).

Como é possível se imprimir e difundir, ainda hoje, uma doutrina racista tão brutal e tão grosseira?

É patente, nas frases citadas, que Allan Kardec considerava a raça branca -- a caucásica -- superior à raça hotentote.

E Kardec chega ao absurdo de levantar a hipótese de que um hotentote não seria um homem!

Hitler aprovaria a doutrina racista de Kardec.

O que o crítico não faz nenhuma questão de ressaltar é que essa não é a opinião de Kardec, pois se fosse ele não colocaria “dir-se-á”, ou seja, parte de uma hipótese que poderia ser sustentada por qualquer pessoa. Em todo esse trecho é sempre empregada a condicional, por isso Kardec usa a conjunção “se”. Portanto, não se trata da opinião de Kardec. Até mesmo no desenrolar do texto isso fica claro, só não o vê o nosso crítico “porque o ódio o cega”, quem sabe. Quanto à questão da superioridade entre as raças já abordamos isso anteriormente.

E os espíritas tupiniquins, repudiam eles esse racismo grosseiro e brutal, ou o aceitam?

Se o repudiam, como poderão continuar aceitando a doutrina espírita de Kardec como revelada por “espíritos superiores”?

E será que esses “espíritos superiores” eram “caucásicos”, isto é, arianos?

Não há dúvida, pois:

Allan Kardec era um racista grosseiro e brutal.

E a doutrina espírita é racista.

Daí, o orgulho que ela suscita em seus seguidores, que -- se são caucásicos -- se julgam superiores aos demais mortais, quer porque os consideram de raças inferiores, quer - quando se comparam a outros brancos -- os julgam pouco evoluídos espiritualmente.

Como católico, repudio totalmente essa doutrina herética e racista.

Orlando Fedeli

Nós os espíritas tupiniquins não repudiamos “esse racismo grosseiro e brutal”, pois ele não existe, já que se trata de puro delírio do nosso crítico, cegado pelo odium theologicum, descarrega-o contra o Espiritismo, e por isso não consegue enxergar o óbvio.

Não aceitamos nenhum tipo de racismo, nem mesmo o religioso, onde algumas igrejas querem ser exclusivas na questão da salvação dos crentes, isso é que é orgulho, o resto é conversa fiada. Mas racismo podemos provar: quando determinada igreja se alia aos senhores de engenho para manter como escravos os negros trazidos da África, que nem os consideravam seres humanos; quando, por muito tempo, considerou que a mulher não tinha alma, coisa que só tinha os homens; quando não enxergava os pobres, que só descobriu recentemente que eles existem, porque sempre esteve aliada aos ricos daí nunca os tinham visto; quando não admitiu que existissem pessoas que não rezasse pela sua Bíblia, por isso a necessidade de se eliminá-los, está aí registrado na História da Humanidade a vergonha da inquisição e das cruzadas, que apesar do líder católico ter pedido perdão, não há como deletar isso dos livros de história.

Quem sempre demonstrou racismo? Fica aí essa pergunta a ecoar nos ares.

Se “como católico repudio totalmente essa doutrina herética e racista”, aliás, frase que comprova o racismo do crítico, diremos: ainda bem que não somos católicos, pois um cristão verdadeiro seguiria o exemplo de Jesus que nunca repudiou ninguém.

ALLAN KARDEC, UM RACISTA BRUTAL E GROSSEIRO - 3

Allan Kardec foi de fato um racista grosseiro e bruto, acrescentando ao evolucionismo darwiniano a sua doutrina gnóstica, muito mal aprendida e pior explicada. Seus textos indicam um homem cheio de contradições e de baixo nível intelectual.

Novamente vem bater na mesma tecla, já que argumentos não os têm mesmo.

Quero citar dele novos textos, comprovantes desse evolucionismo bruto e grosseiro do espiritismo kardecista.

No mesmo livro A Gênese, que já mencionei, se pode ler o seguinte:

"Esses Espíritos dos selvagens, entretanto pertencem à humanidade; atingirão um dia o nível de seus irmãos mais velhos, mas certamente isso não se dará no corpo da mesma raça física, impróprio a certo desenvolvimento intelectual e moral. Quando o instrumento não estiver mais em relação ao desenvolvimento, emigrarão de tal ambiente para se encarnar num grau superior, e assim por diante, até que hajam conquistado todos os graus terrestres, depois do que deixarão a Terra para passar a mundos mais e mais adiantados (Revue Spirite, abril de 1863, pág. 97: Perfectibilidade da raça negra, in Allan Kardec, A Gênese, Lake - Livraria Allan Kardec editora, São Paulo, p. 187. O negrito é do original e o sublinhado é meu).

Nesse texto do fundador do espiritismo moderno, está explicita a tese de que Kardec considerava os selvagens e a raça negra como inferiores.

O que é racismo bruto e grosseiro.

Kardec ressalta a questão da evolução do espírito que, em sua trajetória rumo à perfeição, passa a habitar corpos físicos apropriados ao seu nível evolutivo. Afirma que isso é uma regra para todos e que também todos irão atingir a perfeição, como ainda todos conseguirão um dia estar junto a Deus. A doutrina do céu e inferno é que demonstra racismo, não a da reencarnação progressiva do espírito.

Transcreveremos parte do texto “Frenologia Espiritualista e Espírita”, onde se fala da “Perfectibilidade da Raça do Negro”, citada ao final desse último texto de Kardec. Mas é bom ressaltar que àquela época ainda existia a escravidão. A guerra de sucessão, nos EUA, em 1865, tinha como pano de fundo a questão da libertação dos escravos. No Brasil, a escravatura durou até 13 de maio de 1888, quando da promulgação da Lei Áurea. Não lembramos de nenhuma participação da igreja contra esse estado de coisas. Assim, é dentro deste contexto que Kardec faz as seguintes considerações:

A raça negra é perfectível? Segundo algumas pessoas, essa questão está julgada e resolvida negativamente. Se assim é, e se essa raça está votada por Deus a uma eterna inferioridade, a conseqüência é que é inútil se preocupar com ela, e que é preciso se limitar a fazer do negro uma espécie de animal doméstico adestrado para a cultura do açúcar e do algodão. No entanto, a Humanidade, tanto quanto o interesse social, requer um exame mais atento: é o que iremos tentar fazer; mas como uma conclusão dessa gravidade, num ou noutro sentido, não pode ser tomada levianamente e deve se apoiar sobre um raciocínio sério, pedimos a permissão para desenvolver algumas considerações preliminares, que nos servirão para mostra, uma vez mais, que o Espiritismo é a única chave possível de uma multidão de problemas insolúveis com a ajuda dos dados atuais da ciência...”

Com efeito, se a alma é criada ao mesmo tempo que o corpo, a do sábio do Instituto é tão nova quanto a do selvagem; desde então, por que, pois, há sobre a Terra selvagens e membros do Instituto? O meio no qual vivem, direis. Seja; direi, então, por que homens nascidos no meio mais ingrato, e mais refratário, se tornam gênios, ao passo que crianças que bebem a ciência com o leite materno são imbecis. Os fatos não provam, até à evidência, que há homens instintivamente bons ou maus, inteligentes ou estúpidos? É preciso, pois, que haja na alma um germe; de onde vem? Pode-se racionalmente dizer que Deus os fez todas as espécies, uns que chegam sem dificuldade, e outros que não chegam mesmo com um trabalho perseverante? Estaria aí sua justiça e sua bondade? Evidentemente não. Uma única solução é possível: a preexistência da alma, sua anterioridade ao nascimento do corpo, o desenvolvimento adquirido segundo o tempo que ela viveu e as diferentes migrações que percorreu. A alma traz, pois, unindo-se ao corpo, o que adquiriu, suas qualidades boas ou más; daí as predisposições instintivas; de onde se pode dizer, com certeza, que aquele que nasceu poeta já cultivou a poesia; que aquele que nasceu músico cultivou a música; que aquele que nasceu celerado foi mais celerado ainda. Tal é a fonte das faculdades inatas que produzem, nos órgãos destinados à sua manifestação, um trabalho interior, molecular, que os leva ao desenvolvimento.

Isto nos conduz ao exame da importante questão da anterioridade de certas raças e de sua perfectibilidade.

Colocamos, de início, em princípio, que todas as faculdades, todas as paixões, todos os sentimentos, todas as aptidões estão na Natureza; que elas são necessárias à harmonia geral, porque Deus nada faz de inútil; que o mal resulta do abuso, assim como da falta de contrapeso e de equilíbrio entre as diversas faculdades. As faculdades não se desenvolvendo todas simultaneamente, disso resulta que o equilíbrio não pode se estabelecer senão com o tempo; que essa falta de equilíbrio produz homens imperfeitos, nos quais o mal domina momentaneamente. Tomemos por exemplo o instinto da destruição; esse instinto é necessário, porque, na Natureza, é preciso que tudo se destrua para se renovar; é por isso que todas as espécies vivas são, ao mesmo tempo, agentes destruidores e reprodutores. Mas o instinto de destruição isolado é um instinto cego e brutal; ele domina entre os povos primitivos, entre os selvagens, cuja alma não adquiriu ainda as qualidades reflexivas próprias para regularem a destruição numa justa medida. O selvagem feroz pode, numa só existência, adquirir as qualidades que lhe faltam? Que educação dar-lhe-íeis, desde o beco, para fazerdes deles um São Vicente de Paulo, um sábio, um orador, um artista? Não; é materialmente impossível. E, no entanto, esse selvagem tem uma alma; qual é a sorte dessa alma depois da morte? É punida por seus atos bárbaros que nada reprimiu? Está colocada em posição igual à do homem de bem? Um não é mais racional que o outro? Está, então, condenada a permanecer eternamente num estado misto, que não é nem a felicidade e nem a infelicidade? Isso não seria justo; porque, se não é mais perfeita, isso não dependeu dela. Não podeis sair desse dilema senão admitindo a possibilidade de um progresso; ora, como pode progredir, se não for tomando novas existências? Poderá, direis, progredir como Espírito, sem retornar a Terra. Mas, então, porque nós, civilizados, esclarecidos, nascemos na Europa antes que na Oceania? Em corpos brancos antes que em corpos negros? Por que um ponto de partida tão diferente, se não se progride senão como Espírito? Por que Deus nos isentou do longo caminho que o selvagem deve percorrer? Nossas almas seriam de uma outra natureza que a sua? Por que, então, procurar fazê-lo cristão? Se o fazeis cristão, é que o olhais como vosso igual diante de Deus; se é vosso igual diante de Deus, porque Deus vos concede privilégios? Agiríeis inutilmente, não chegaríeis a nenhuma solução senão admitindo, para nós um progresso anterior, para o selvagem um progresso ulterior; se a alma do selvagem deve progredir ulteriormente, é que ela nos alcançará; se progredimos anteriormente, é que fomos selvagens, porque, se o ponto de partida for diferente, não há mais justiça, e se Deus não é justo, não é Deus. Eis, pois, forçosamente, duas existências extremas: a do selvagem e a do homem mais civilizado; mas, entre esses dois extremos, não encontrais nenhum intermediário? Segui a escala dos povos e vereis que é uma cadeia não interrompida, sem solução de continuidade. Ainda uma vez, todos esses problemas são insolúveis sem a pluralidade das existências. Dizei que os Zelandeses renascerão entre um povo um pouco menos bárbaro, e assim por diante até à civilização, e tudo se explica; que se, em lugar de seguir os degraus da escala, vencer todos de repente e sem transição entre nós, e nos dará o odioso espetáculo de um Dumollard, que é um monstro para nós, e que nada apresentou de anormal entre as populações da África central, de onde talvez saiu. Assim é que, fechando-se numa só existência, tudo é obscuridade, tudo é problema sem resultado; ao passo que, com a reencarnação, tudo é claro, tudo é solução. (...).

O exame frenológico dos povos pouco inteligentes constata a predominância das faculdades instintivas, e a atrofia dos órgãos da inteligência. O que é excepcional nos povos avançados, é a regra em certas raças. Por que isto? É uma injusta preferência? Não, é a sabedoria. A natureza é sempre previdente; nada faz de inútil; ora, seria uma coisa inútil dar um instrumento completo a quem não tem meios de se servir dele. Os Espíritos selvagens são Espíritos de crianças, podendo assim se exprimir; entre eles, muitas faculdades ainda estão latentes. Que faria, pois, o Espírito de um Hotentote no corpo de um Arago? Seria como aquele que não sabe a música diante de um excelente piano. Por uma razão inversa, que faria o Espírito de Arago no corpo de um Hotentote? Seria como Liszt diante de um piano que não teria senão algumas más cordas falsas, às quais seu talento jamais chegaria a dar sons harmoniosos. Arago entre os selvagens, com todo o seu gênio, seria tão inteligente, talvez, quanto pode sê-lo um selvagem, mas nada de mais; jamais seria, sob uma pele negra, membro do Instituto. Seu Espírito levá-lo-ia ao desenvolvimento dos órgãos? De órgãos fracos, sim; de órgãos rudimentares, não (1).

A Natureza, portanto, apropriou os corpos ao grau de adiantamento dos Espíritos que devem neles se encarnar; eis porque os corpos das raças primitivas possuem menos cordas vibrantes que os das raças avançadas. Há, pois, no homem, dois seres bem distintos: o Espírito, ser pensante; o corpo, instrumento das manifestações do pensamento, mais ou menos completo, mais ou menos rico em cordas, segundo as necessidades.

Chegamos agora à perfectibilidade das raças; esta questão, por assim dizer, está resolvida pelo que precede: não temos senão que deduzir-lhe algumas conseqüências. Elas são perfectíveis pelo Espírito que se desenvolve através das suas diferentes migrações, em cada uma das quais adquire, pouco a pouco, as qualidades que lhes faltam; mas, à medida que as suas faculdades se estendem, falta-lhe um instrumento apropriado, como a uma criança que cresce são necessárias roupas maiores; ora, sendo insuficientes os corpos constituídos para seu estado primitivo, lhes é necessário encarnar em melhores condições, e assim por diante, à medida que progride.

As raças são também perfectíveis pelo corpo, mas isso não é senão pelo cruzamento com as raças mais aperfeiçoadas, que lhes trazem novos elementos que as enxertam, por assim dizer, os germes de novos órgãos. Esse cruzamento se faz pelas emigrações, pelas guerras, e pelas conquistas. Sob esse aspecto, há raças, como famílias, que se abastardam se não se misturam com sangues diversos. Então, não se pode dizer que isso seja a raça primitiva pura, porque sem cruzamento essa raça será sempre a mesma, seu estado de inferioridade relacionando à sua natureza; ela degenerará em lugar de progredir, e é o que a conduz ao desaparecimento num tampo dado.

A respeito dos negros escravos, diz-se: ‘São seres tão brutos, tão pouco inteligentes, que seria trabalho perdido procurar instruí-los; é uma raça inferior, incorrigível e profundamente incapaz’. A teoria que acabamos de dar permite encará-los sob uma outra luz; na questão do aperfeiçoamento das raças, é preciso ter em conta dois elementos constitutivos do homem; o elemento espiritual e o elemento corpóreo. É preciso conhecê-los, um e o outro, e só o Espiritismo pode nos esclarecer sobre a natureza do elemento espiritual, o mais importante, uma vez que é este que pensa e que sobrevive, ao passo que o elemento corpóreo se destrói.

Os negros, pois, como organização física, serão sempre os mesmos; como Espíritos, sem dúvida, são uma raça inferior, quer dizer, primitiva; são verdadeiras crianças às quais pode-se ensinar muita coisa; mas, por cuidados inteligentes, pode-se sempre modificar certos hábitos, certas tendências, e já é um progresso que levarão numa outra existência, e que lhes permitirá, mais tarde, tomar um envoltório em melhores condições. Trabalhando para o seu adiantamento, trabalha-se menos para o presente do que para o futuro, e, por pouco que se ganhe, é sempre para eles um tanto de aquisições; cada progresso é um passo adiante, que facilita novos progressos.

Sob o mesmo envoltório, quer dizer, com os mesmos instrumentos de manifestação do pensamento, as raças não são perfectíveis senão em limites estreitos, pelas razões que desenvolvemos. Eis por que a raça negra, enquanto raça negra, corporeamente falando, jamais alcançará o nível das raças caucásicas; mas, enquanto Espíritos, é outra coisa; ela pode se tornar, e se tornará, o que somos; somente ser-lhe-á preciso tempo e melhores instrumentos. Eis porque as raças selvagens, mesmo em contato com a civilização, permanecem sempre selvagens; mas, à medida que as raças civilizadas se ampliam, as raças selvagens diminuem, até que desapareçam completamente, como desapareceram as raças dos Caraíbas, dos Guanches, e outras. Os corpos desapareceram, mas em se tornaram os Espíritos? Mais de um, talvez, esteja entre nós. (Revista Espírita 1862, pp. 97-105).

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(1) Vede a Revista Espírita de outubro de 1861: Os Cretinos.

O leitor atento verá que ocorre justamente o contrário do que o crítico fala, pois Kardec disse exatamente da igualdade dos seres. Quando ele evoca a desigualdade está apenas falando do corpo físico, habitação temporária do Espírito. E especificamente no caso do negro, defende a dignidade dos dessa raça, quando, em sua época, ainda existia a escravidão.

Entretanto, quanto a essa questão do corpo físico, não se pode creditar a Kardec a diferença que se fazia entre as raças, já que se trata de um conceito de época. Aliás, diga-se de passagem, conceito científico, conforme se pode comprovar do que fala Paulo Henrique de Figueiredo, no artigo O polêmico texto de Kardec sobre a Raça Negra, publicado na Revista Universo Espírita:

No tempo de Kardec todos acreditavam que os negros formavam uma raça inferior à raça caucasiana, ou branca, o que explica a frase de Kardec, que parece ferir a lei de igualdade: “Eis por que a raça negra, enquanto raça negra, corporeamente falando, jamais alcançará o nível das raças caucasianas”. Era uma questão não só cultural, mas tinha também o respaldo da ciência daquela época, que observava o estado primitivo dos povos africanos e escravizados nas Américas. As conseqüências da crença nas diferenças raciais levavam inevitavelmente à discriminação, divisão de classes e exploração do homem pelo homem. Allan Kardec, pesquisando o elemento espiritual, sabia estar nele a chave da questão. Todos somos iguais, e evoluímos até nos tornarmos espíritos puros.

O propósito do artigo de Kardec era esclarecer os conceitos espíritas a partir da realidade científica e cultural de sua época.

[...]

[...] Afastado o erro científico utilizado pelo Codificador – que justifica a diferença entre os corpos do negro e do branco – e todas as deduções derivadas dele, o artigo é não só avançado para usa época, como é a única resposta para implantar no mundo a verdadeira igualdade.

[...]

Foi o naturalista francês Georges Cuvier (1769-1832), pesquisador produtivo e influente, que introduziu no meio científico o termo raça e a classificação dos negros como raça inferior. Os negros podiam ser observados somente nas tribos primitivas da África ou entre os escravos trazidos para as Américas. Nos relatos dos observadores, eram evidentes e indiscutíveis as diferenças entre a civilização moderna e culta da Europa e os hábitos, costumes e limites culturais e tecnológicos dos povos africanos. Desse modo, o conceito de raça e superioridade da caucasiana passaram a ser aceitos pela totalidade dos pesquisadores europeus.

Teoria altamente influente em seu tempo, nascida das pesquisas poligenistas, a frenologia (de phrenos, mente e logos, estudo) interpretava os diferentes comportamentos, habilidades, e até faculdades morais e intelectuais do homem, como características inatas e dependentes da organização do cérebro. Conforme essa teoria, cada parte do cérebro tem diferentes funções. “Surgiu das experiências anatômicas e fisiológicas que demonstraram claramente o papel especial de certas partes do cérebro nas funções vitais, e a diferença de fenômenos produzidos pela lesão de tal ou tal parte”, explicou Kardec em seu artigo, Perfectibilidade da Raça Negra. É de acordo com a frenologia que se considerava, biologicamente, menos capaz o organismo do negro em relação ao do branco. Sem ter uma base experimental que a confirmasse, a frenologia foi abandonada pela ciência no final do século 19. No entanto, podemos considerar a frenologia como a primeira teoria completa do atual conceito do localizacionismo cerebral - partes do cérebro com funções específicas. Quanto a esse conceito ela estava correta.

Hoje, segundo a genética, as diferenças entre as raças caíram por terra. Não existe diferença entre o negro e o branco. A frenologia estava equivocada quando considerou o corpo do negro inferior ao corpo do branco europeu. Podemos considerar superadas as referências de Kardec em seu artigo quanto a essa idéia. No entanto, o localizacionismo cerebral é um conceito válido, e o artigo, no que refere a esse aspecto e ao conceito doutrinário da evolução espiritual permanece correto, atual e revolucionário. (pp. 32-39).

Recomendo a leitura na íntegra, do artigo citado, para aprofundamento do tema. Seu link de acesso está disponível no final do texto. Assim, querer crucificar Kardec por sua conduta de aceitar um conceito de época, é completamente injusto e de uma desonestidade tão grosseira quanto brutal.

Se algum espírita ousar defender esse racismo kardecista, hoje, estará cometendo uma violação das leis anti-racistas vigentes no Brasil.

Mas quem está a violar as leis vigentes no Brasil, principalmente a Constituição Brasileira, magna carta de nosso país, é o nosso crítico, pois nela se garante, tanto a ele quanto a nós, o direito de professar a religião que julgarmos de melhor conveniência para nós, já que não é o que faz. Quanto a defender Kardec, é com prazer que o fazemos, pois até o momento não encontramos ninguém à altura de contrapor alguma coisa que possa arranhar qualquer princípio do Espiritismo ou que tenha colocado algo verdadeiro que venha a manchar sua reputação.

E Allan Kardec considerava raças inferiores não só os indígenas e negros, mas também os indivíduos de raça amarela.

Raça superior seria só a branca.

Para o racista grosseiro e bruto que foi Allan Kardec também os chineses seriam de uma raça inferior.

Eis a prova do que estou afirmando, retirada de outro livro de Allan Kardec:

"Um chinês, por exemplo, que progredisse suficientemente e não encontrasse na sua raça um meio correspondente ao grau que atingiu, encarnará entre um povo mais adiantado" (Allan Kardec, O que é o Espiritismo, Edição da Federação Espírita Brasileira, Brasília, 32a edição, sem data, pp. 206-207. A edição original de Qu'est ce que le Spiritisme é de 1859).

Portanto, para Kardec e para os espíritas, também os amarelos (japoneses, chineses, etc.), teriam que se reencarnar em raças superiores ou mais adiantadas. Hitler não diria muito diferente.

Aqui, caro leitor, temos certeza que já poderá até adivinhar o que iremos fazer. Realmente, não poderá ser diferente, pois, conforme já demonstramos desde o início, o nosso crítico quer distorcer o pensamento de Kardec ao colocar parte dos textos, aquilo que aparentemente achou que iria justificar sua deliberada intenção de denegrir Kardec, para atingir, por tabela, a Doutrina Espírita. Vejamos todo o pensamento de Kardec, que extraímos do livro O que é o Espiritismo:

139 - Por que há, sobre a Terra, selvagens e homens civilizados?

Sem a preexistência da alma, esta questão é insolúvel, a menos que se admita que Deus criou almas selvagens e almas civilizadas, o que seria a negação da sua justiça. Por outro lado, a razão recusa admitir que, depois da morte, a alma do selvagem permaneça perpetuamente num estado de inferioridade, nem que ela esteja na mesma posição da do homem esclarecido.

Admitindo-se, para as almas, um mesmo ponto de partida, única doutrina compatível com a justiça de Deus, a presença simultânea da selvageria e da civilização sobre a Terra é um fato material, que prova o progresso que uns cumpriram e os outros podem realizar.

A alma do selvagem alcançará, pois, com o tempo, o grau de alma civilizada; mas, como todos os dias morrem selvagens, sua alma não pode alcançar esse grau senão nas encarnações sucessivas, cada vez mais aperfeiçoadas e apropriadas ao seu adiantamento, passando por todos os graus intermediários entre os dois pontos extremos.

140 - Não se poderia admitir, segundo a idéia de algumas pessoas, que a alma não se encarna senão uma vez, e que ela cumpre seu progresso no estado de Espírito, ou em outras esferas?

Essa proposição seria admissível se não houvesse sobre a Terra senão homens do mesmo grau moral e intelectual, caso em que se poderia dizer que a Terra está afetada a um grau determinado; ora, tem-se, diante de si, a prova contrária.

Não se compreenderia, com efeito, que o selvagem não possa alcançar a civilização neste mundo, uma vez que há almas mais avançadas encarnadas sobre o mesmo globo, de onde é preciso concluir que a possibilidade da pluralidade das existências terrestres resulta dos próprios exemplos que se tem sob os olhos.

Se fora de outro modo, seria preciso explicar: primeiro, por que só a Terra teria o monopólio das encarnações? segundo, por que, tendo esse monopólio, aí se encontram almas encarnadas em todos os graus?

141 - Por que se encontram, no meio de sociedades civilizadas, seres de uma ferocidade semelhante à dos selvagens mais bárbaros?

São Espíritos muito inferiores, saídos de raças bárbaras, e que ensaiaram se reencarnar num meio que não é o seu, e onde se encontram deslocados, como se um camponês se encontrasse de repente transportado para as altas rodas sociais.

Nota: Não se poderia admitir sem denegar a Deus toda justiça e toda bondade, que a alma do criminoso endurecido tenha, na vida atual, o mesmo ponto de partida que a de um homem cheio de todas as virtudes. Se a alma não é anterior ao corpo, a do criminoso e a do homem de bem são tão novas uma como a outra; por que uma seria boa e a outra má?

142 - De onde vem o caráter distintivo dos povos?

São Espíritos que têm, mais ou menos, os mesmos gostos e as mesmas inclinações que se encarnam num meio simpático, e freqüentemente no mesmo meio, onde podem satisfazer suas inclinações.

143 - Como progridem e como degeneram os povos?

Se a alma é criada ao mesmo tempo que o corpo, a dos homens de hoje são tão novas, tão primitivas quanto as dos homens da Idade Média. E, desde então, pergunta-se por que elas têm costumes mais dóceis e uma inteligência mais desenvolvida?

Se, na morte do corpo, a alma deixa definitivamente a Terra, pergunta-se, ainda, qual seria o fruto do trabalho que se faz para melhorar um povo, se está a recomeçar com todas as almas novas que chegam diariamente?

Os Espíritos se encarnam em um meio simpático e em relação com o grau de seu adiantamento.

Um chinês, por exemplo, que progrediu suficientemente, e não encontra na sua raça um meio correspondente ao grau que alcançou, se encarnará entre um povo mais avançado. À medida que uma geração dá um passo à frente, ela atrai por simpatia novos Espíritos mais avançados, e que talvez sejam os que viveram em um mesmo país, se progrediram, e é assim que, passo a passo, uma nação avança. Se a maioria dos novos fosse de uma natureza inferior, os velhos partindo cada dia e não retornando a um meio mais inferior, o povo degeneraria e acabaria por se extinguir.

Nota: Estas questões levantam outras que encontram sua solução no mesmo princípio; por exemplo, de onde vem a diversidade de raças sobre a Terra? Há raças rebeldes ao progresso? A raça negra é suscetível de alcançar o nível das raças européias? A escravidão é útil ao progresso das raças inferiores? Como pode se operar a transformação da Humanidade? - (O Livro dos Espíritos: Lei do progresso, nº. 776 e seg. - Revista Espírita, 1862, pág. 1: Doutrina dos anjos decaídos - Idem, 1862, pág. 97: Perfectibilidade da raça negra).

Nesse ponto, mais uma vez (E qual deles não foi até agora?), o nosso crítico tenta imputar a Kardec pensamento justamente contrário ao que disse o codificador, numa demonstração clara que o ódio lhe cega. O texto é tão óbvio que não necessitamos dizer nada.

E Allan Kardec, esse racista bruto e grosseiro, pretendia que sua palavra fosse superior à palavra de Deus, na Sagrada Escritura, pois ele escreveu:

"A reencarnação fazia parte dos dogmas judaicos sob o nome de ressurreição; só os Saduceus, que pensavam que tudo acabava com a morte, não acreditavam nela. As idéias dos Judeus sobre esse ponto, como sobre muitos outros, não estavam claramente definidas, porque não tinham senão noções vagas e incompletas sobre a alma e sua ligação com o corpo. Eles acreditavam que um homem que viveu podia reviver, sem se inteirarem com precisão da maneira pela qual o fato podia ocorrer; designavam pela palavra ressurreição o que o Espiritismo, mais judiciosamente, chama reencarnação". (Allan Kardec, O Evangelho segundo o Espiritismo, Instituto de Difusão Espírita, Araras 1978, p. 59. O negrito e o sublinhado são meus. O itálico é do autor).

Portanto Allan Kardec se considerava mais "judicioso" do que a Bíblia, porque, naquilo que os autores inspirados por Deus erraram, ele Kardec elucidou.

Além de ser, então, um racista brutal e grosseiro, Allan Kardec era um presunçoso soberbo, que se colocava até mesmo acima da Bíblia.

Orlando Fedeli

Se o crítico quiser mesmo saber se os autores bíblicos erraram ou não, é só ter a coragem de ler o nosso livro A Bíblia à Moda da Casa.

Será que Kardec tem razão? Vejamos o que resultou de nossas pesquisas a respeito dessa afirmativa. Transcreveremos uma parte do nosso texto “Reencarnação no contexto histórico”, onde abordamos essa questão, que será muito útil aqui.

Sempre lemos, de outros autores, que a idéia da reencarnação existia no cristianismo primitivo e existe no judaísmo, como por exemplo, Dr. Severino Celestino da Silva, em Analisando as Traduções Bíblicas, H. Spencer Lewis, F.R.C, Ph.D., no livro A Vida Mística de Jesus e o teólogo alemão Holger Kersten, autor de Jesus Viveu na Índia, do qual transcrevemos:

“Até agora, quase todos os historiadores da Igreja acreditaram que a doutrina da reencarnação foi declarada herética durante o Concílio de Constantinopla em 553. No entanto, a condenação da doutrina se deve a uma ferrenha oposição pessoal do imperador Justiniano, que nunca esteve ligado aos protocolos do Concílio. Segundo Procópio, a ambiciosa esposa de Justiniano, que, na realidade, era quem manejava o poder, era filha de um guardador de ursos do anfiteatro de Bizâncio. Ela iniciou sua rápida ascensão ao poder como cortesã. Para se libertar de um passado que a envergonhava, ordenou, mais tarde, a morte de quinhentas antigas ‘colegas’ e, para não sofrer as conseqüências dessa ordem cruel em uma outra vida como preconizava a lei do Carma, empenhou-se em abolir toda a magnífica doutrina da reencarnação. Estava confiante no sucesso dessa anulação, decretada por ‘ordem divina’”.

“Em 543 d.C. o imperador Justiniano, sem levar em conta o ponto de vista papal, declarou guerra frontal aos ensinamentos de Orígenes, condenando-os através de um sínodo especial. Em suas Obras De Principiis e Contra Celsum, Orígenes (185-235 d.C), o grande Padre da Igreja, tinha reconhecido, abertamente, a existência da alma antes do nascimento e sua dependência de ações passadas. Ele pensava que certas passagens do Novo Testamento poderiam ser explicadas somente à luz da reencarnação”.

“Do Concílio convocado pelo imperador Justiniano só participaram bispos do Oriente (ortodoxos). Nenhum de Roma. E o próprio Papa, que estava em Constantinopla naquela ocasião, deixou isso bem claro”.

“O Concílio de Constantinopla, o quinto dos Concílios, não passou de um encontro, mais ou menos em caráter privado, organizado por Justiniano, que, mancomunado com alguns vassalos, excomungou e maldisse a doutrina da pré-existência da alma, apesar dos protestos do Papa Virgílio, com a publicação de seus Anathemata”.

“A conclusão oficial a que o Concílio chegou após uma discussão de quatro semanas teve que ser submetida ao Papa para ratificação. Na verdade, os documentos que lhe foram apresentados (os assim-chamados ‘Três Capítulos’) versavam apenas sobre a disputa a respeito dos três eruditos que Justiniano, há quatro anos, havia por um edito declarado heréticos. Nada continham sobre Orígenes. Os Papas seguintes, Pelágio I (556-561), Pelágio II (579-590) e Gregório (590-604), quando se referiram ao quinto Concílio, nunca tocaram no nome de Orígenes”.

“A Igreja aceitou o edito de Justiniano – ‘Todo aquele que ensinar esta fantástica pré-existência da alma e sua monstruosa renovação será condenado’ – como parte das conclusões do Concílio. Portanto, a proibição da doutrina da reencarnação não passa de um erro histórico, sem qualquer validade eclesiástica”. (pág. 240-241).

E especificamente quanto ao judaísmo podemos comprovar pelo historiador judeu Flavius Josephus, citado por Dr. Hernani de Guimarães Andrade, no livro Você e a Reencarnação, à página 28. Dr. Hernani em referência a WHISTON (The Works of Flavius Josephus, trad. Willian Whiston, M.A., London: War, Loc & Co. Limited.), disse-nos:

Flavius Josephus (37 a 95 a.D.), intelectual e historiador judeu, em sua famosa obra De Bello Judaico, faz a seguinte advertência aos soldados judeus que preferiam desertar, suicidando-se:

"Não vos recordais de que todos os espíritos puros que se encontram em conformidade com a vontade divina vivem no mais humildes dos lugares celestiais, e que no decorrer do tempo eles serão novamente enviados de volta para habitar corpos inocentes? Mas que as almas daqueles que cometeram suicídio serão atiradas às regiões trevosas do mundo inferior?" (Josephus, 1910).

Entretanto, até nessa clássica obra desse autor da antiguidade modificaram o texto para, obviamente, fugir da idéia da reencarnação, conforme podemos comprovar pela tradução de Vicente Pedroso, publicada no livro História dos Hebreus, (CPAD, 7ª ed., 2003), que disse o seguinte (pág. 600):

Não sabeis que Ele difunde suas bênçãos sobre a posteridade daqueles, que depois de ter chamado para junto de si, entregam em suas mãos, a vida, que, segundo as leis da natureza, Ele lhes deu e que suas almas voam puras para o céu, para lá viverem felizes e voltar, no correr dos séculos, animar corpos que sejam puros como elas (*) e que ao invés, as almas dos ímpios, que por uma loucura criminosa dão a morte a si mesmos são precipitados nas trevas do inferno.

(*) Parece, segundo estas palavras, que Josefo acreditava na metempsicose.

Observar que apesar dos textos serem bem semelhantes, mudaram todo o sentido do original para fugir da idéia da reencarnação. Dúvida que envolveu até o próprio editor: “Parece, segundo estas palavras, que Josefo acreditava na metempsicose”, querendo dissimular o pensamento sobre a reencarnação.

Mas se esqueceram de modificar o que disse Josephus, quando fala no que acreditavam os fariseus:

“Eles julgam que as almas são imortais, que são julgadas em um outro mundo e recompensadas ou castigadas segundo foram neste, viciosas ou virtuosas; que umas são eternamente retidas prisioneiras nessa outra vida e que outras voltam a esta”. (op. cit., pág. 416).

Entretanto, o mesmo não aconteceu com a tradução do livro Atos dos Apóstolos 23, 8, onde se diz que os fariseus sustentam “a ressurreição”, quando, na verdade, deveria ser “a reencarnação”, conforme nos informa o historiador judeu.

Podemos ainda acrescentar as informações contidas no livro As Rodas da Alma, onde o Rabino Philip S. Berg desenvolvendo o tema dentro da ótica cabalista, diz a certa altura (p. 29):

Entre todos os que aceitam a doutrina da reencarnação, talvez os cabalistas sejam os únicos que acreditam que uma alma pode retornar num nível inferior daquele que deixou em uma vida anterior. Efetivamente, se o peso do tikun (correção) for suficientemente pesado, uma alma humana poderá se encontrar reencarnada no corpo de um animal, de uma planta ou até mesmo de uma pedra.

“A Cabala é o significado mais profundo e oculto da Torá, ou Bíblia”, diz Berg, o que confirma que é um conhecimento do judaísmo místico, segundo suas próprias palavras.

Trazemos também a opinião de Sérgio F. Aleixo, escritor e estudioso da Bíblia, que em seu livro Reencarnação – Lei da Bíblia, Lei do Evangelho, Lei de Deus, disse o seguinte (p. 21):

Neste trabalho, queremos demonstrar que a cultura judaico-cristã tem precedentes reencarnacionistas incontestáveis, a despeito de as políticas igrejeiras, sustentadas pelos mais absurdos teologismos, se obstinarem ainda em negá-los.

É comum a certas pessoas advogarem que devemos, para interpretar a Bíblia, levar em conta o contexto histórico, mas quando o fato é reencarnação não seguem a sua própria recomendação. Os fatos históricos estão aí relatados, e não há como mudá-los. Resta então aos fanáticos a humildade de mudarem de posicionamento em relação ao assunto. Embora sinceramente achamos isso muito difícil, pois são completamente cegos, a única verdade que aceitam é a que lhes ensinaram num momento suscetível, pouco importa se corresponde à realidade ou não. Todos os que pensam diferente deles são “heréticos” que precisam ser combatidos.

Com essa transcrição demos as provas de que realmente a reencarnação era aceita antigamente, só que a Igreja, querendo ser mais realista que o rei, muda essa questão já que ela não é conveniente se quer manter sob seu jugo os fiéis.

Conclusão

Os tempos passam, mas para certos tipos de comportamento não aconteceu nenhuma evolução, ainda usam dos mesmos ultrapassados argumentos. Em A Reencarnação, o Elo Perdido do Cristianismo, Elizabeth Clare Prophet, dizendo a respeito do Gnosticismo, faz a seguinte colocação:

“Acusar alguém de perversão sexual é geralmente uma boa forma de desacreditar suas idéias. Foi justamente isto que os Patriarcas da Igreja fizeram aos gnósticos. Ao caracterizá-los como insanos, depravados, seres anormais que odiavam a vida e praticavam orgias, o amor livre e o homossexualismo, que alimentavam-se de fetos e recusavam-se a ter filhos, os teólogos primitivos conseguiram convencer as pessoas de que os ensinamentos dos gnósticos eram absurdos e insensatos”.

É o que parece querer fazer o nosso atual crítico. Sua tática nada condiz com a profissão que exerce, se é que a exerce mesmo. Talvez queira transferir a Kardec o que lhe vai no íntimo do seu coração? Mas isso só Deus o sabe. No entanto, pelo uso repetitivo e intercalado dos termos “brutal e grosseiro”, o que podemos desconfiar da parte do autor é que tudo isso não passe mesmo de mais um exercício, consciente ou não, de auto-sugestão. Quem sabe queira convencer a si próprio de suas idéias?

Para encerrar, citaremos uma mensagem interessante que poderá muito bem servir a outros que, como esse nosso crítico, porventura possam querer denegrir o Espiritismo.

A Infância e o Riacho; parábola.

Um dia, uma criança chegou junto de um riacho bastante rápido que tinha quase a impetuosidade de uma torrente; a água lançava-se de uma colina vizinha, e engrossava à medida que avançava na província. A criança se pôs a examinara a torrente, depois amontoou toda espécie de pedras que pegava em seus pequenos braços; resolveu construir um dique; cega presunção! Apesar de todos os seus esforços e sua pequena cólera, não pode a isso chegar. Refletindo, então, mais seriamente, se fosse preciso empregar essa palavra a uma criança, ela subiu mais alto, abandonou sua primeira tentativa, e quis fazer seu dique mais perto da própria fonte do riacho; mas ai! Seus esforços foram ainda impotentes; desencorajou-se e daí se foi chorando. Ainda estava na bela estação, e o riacho não estava mais rápido em comparação com que estivera no inverno; ele cresceu, e a criança viu seus progressos; a água, engrossando-se lançava-se com mais fúria, derrubando tudo em sua passagem, e a infeliz criança, ela mesma, teria sido arrastada se tivesse ousado aproximar-se dele como da primeira vez.

Ó homem fraco! Criança! Tu queres elevar uma muralha, um obstáculo intransponível à marcha da verdade, não és mais forte que essa criança, e tua pequena vontade não é mais forte que seus pequenos braços; quando mesmo quiseres esperá-la em sua fonte, a verdade, estejas disso seguro, te arrastará infalivelmente. (Basile, 11.11.1859). (Revista Espírita 1859, pp. 340-341).

Paulo da Silva Neto Sobrinho